OBS 1: ESSE CAPÍTULO PODE CONTER GATILHOS A RESPEITO DE TRANSTORNOS DE IMAGEM E LUTO
OBS2: Para uma melhor imersão no capítulo, recomendo ler escutando "Stop Crying Your Heart Out" do Oasis - uma das melhores músicas tristes já escrita sim.
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Eloise's p.o.v.
3º de julho 2022, domingo.
Silverstone, UK.
21h 33min.
"Hold up
Hold on
Don't be scared
You'll never change what's been and gone"
"Segure-se
Aguente
Não tenha medo
Você nunca mudará o que aconteceu e o que já passou"
Idiota. Era isso que eu era. Uma grande idiota. Eu conhecia Nelson Piquet há uma vida inteira. E mesmo assim decidi pagar para ver. E era óbvio que o preço não seria barato. Nunca era. E as lágrimas que escorriam pelo meu rosto enquanto eu corria sem rumo, para o mais longe possível daquele restaurante, eram apenas um lembrete disso. Um pequeno lembrete do quão idiota eu era.
A Inglaterra certamente não era meu lugar favorito do mundo. Frio demais. Chuvoso demais. Cinza demais. E Silverstone certamente não era meu lugar favorito na Inglaterra. Nem mesmo as luzes que iluminavam o vilarejo conseguiam o lugar tornar mais aconchegante. Mas talvez o problema fosse eu. Sempre havia essa opção.
Não me lembro desde quando, mas se eu tivesse que apostar, diria que desde sempre. Eu sempre fui o problema. Pelo menos para Nelson Piquet. Eu não fui uma criança boa no kart como meus irmãos - na verdade, eu era uma aberração, nas palavras do meu pai. E talvez nessa parte ele nem estivesse tão errado assim, afinal de contas, nas duas vezes que tentei andar naqueles carrinhos estúpidos, por volta dos cinco anos, consegui bater mais vezes do que voltas completadas. Mas esse não era meu único problema.
Eu não era elegante igual minha mãe. Eu não era delicada e bonita igual Kelly. Eu não era alta e modelo como as duas. Eu não era extrovertida como Nelsinho, muito menos carismática como Laszlo. Eu era apenas a Eloise. O patinho feio - e gordo, mas palavras do meu pai. A filha que nasceu na iminência de um divórcio, e a qual, mesmo que o casamento já estivesse mais do que terminado, Nelson Piquet culparia pelo ponto final até os últimos dias de sua vida. Ou pelo menos essa era a desculpa que eu tentava encontrar. Porque uma desculpa fajuta era melhor do que nenhuma. Porque uma desculpa mesquinha era melhor do que aceitar que meu pai simplesmente não gostava de mim.
Eu começo a sentir umas gotas mais pesadas caindo pelo meu rosto. Ótimo. Como se já não bastasse o desastre de minutos atrás, agora eu tomaria um banho de chuva. Obrigada pelos mimos, Inglaterra.
"May your smile (may your smile)
Shine on (shine on)
Don't be scared (don't be scared)
Your destiny may keep you warm"
"Deixe seu sorriso (deixe seu sorriso)
Brilhar (brilhar)
Não tenha medo (não tenha medo)
Seu destino pode manter você aquecida"
E então eu começo a rir. Ou melhor, gargalhar. Eu gargalhava enquanto minhas lágrimas salgadas se misturavam com a água da chuva. Eu gargalhava da minha miséria. E de como eu simplesmente não tinha mais controle de nada. Talvez meu transtorno alimentar era a única coisa a qual tive controle durante muito tempo, e agora a quele filhos da puta tinha colocado até mesmo isso em questão.

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SHIVERS
FanfictionEloise Piquet era, como seu pai gostava de lembrar, "a filha desviada". Vinda de uma família que respirava automobilismo, Eloise sempre ignorou todo o peso que seu sobrenome tinha nas principais categorias do automobilismo mundial. Ela odiava esse m...