Capítulo 26

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Charles's p.o.v.

10 de julho 2022, Domingo.

Spielberg, Austria.

15h 49min.


Eu gostava de pensar que era um homem de palavra. Por mais que, ultimamente, eu não fosse exatamente o homem o qual meus pais me criaram para ser, eu sabia que ainda era o mesmo Charles de sempre - ou que pelo menos não era tarde demais, eu ainda poderia resgatá-lo. E eu estava determinado a isso.

Eu colocaria os pontos em todos os I's em abertos da minha vida. Eu correria hoje, correria na França em duas semanas, e depois na Hungria, e após isso estaríamos nas férias de verão. Eu daria tudo de mim nessas etapas. E o mais importante de tudo: eu colocaria a minha vida de volta aos eixos.

Após quase dois meses, a imprensa já nem ligava mais tanto para o meu fiasco em Mônaco - dentro e fora das pistas. A poeira estava finalmente baixando. Afinal, quem se importaria com a minha vida sem graça quando se tem a RBR quebrando teto de gastos? E a tendência era de que a poeira baixasse ainda mais durante as férias de verão, principalmente levando em consideração que o início da pausa da temporada significava o início da silly season.

Eu teria paz, e finalmente poderia arrumar a minha vida. Iria terminar de vez essa faixada de marketing estúpida com Charlotte. Eu teria uma conversa definitiva com Eloise e, com sorte, ela me escutaria. Eu gostava de sonhar que ela poderia até mesmo dar uma chance para nós. Isso era uma promessa que eu fazia para mim todo os dias, e a qual eu iria cumprir. Eu iria arrumar as coisas, custasse o que custasse.

Mas antes de cumprir essa promessa para mim mesmo, havia outra promessa a qual eu necessitava cumprir antes: a de vencer a corrida de hoje.

Eu havia prometido a Eloise que faria a pole na casa da RBR. E assim o fiz. Uma promessa arriscada, mas que eu sabia que era relativamente fácil de cumprir. O nosso carro estava correndo bem durante todo o final de semana, o ritmo estava lá. E por mais que durante a corrida o SF-22 não esteja saindo exatamente como fora planejado para, era necessário admitir que em voltas rápidas era um carro muito difícil de ser batido. Era fato de que o SF-22 era o carro mais rápido do grid, não havia dúvidas em relação a isso. No entanto, também era fato e não haviam dúvidas de que era o carro que mais degradava pneus no grid. E o motor também não colaborava tanto como gostaríamos. Ele era perfeito quando tudo ia bem. O problema era que raramente tudo ia bem.

Mas, mesmo assim, o SF-22 seguia sendo um carro extremamente difícil de ser batido em voltas rápidas. E, modéstia parte, eu também era um piloto extremamente difícil a ser batido em voltas rápidas. Eu fora pole em absolutamente todas as corridas da temporada quando não houve alguma punição por troca de componentes, ou o carro, ou a própria equipe, não me deixaram na mão. E, felizmente, em Red Bull Ring a sorte parecia estar sorrindo para mim. Eu não fui deixado na mão em nenhum momento pela escuderia de Maranello e nem pelo SF-22 - e nem por mim mesmo. Aquele definitivamente estava sendo um final de semana atípico para a Ferrari e para mim. Estava tudo perfeito. E, por incrível que parecesse, aparentemente, a tendência era de que continuasse assim. A RBR e Max Verstappen não demostraram em nenhum momento durante os treinos, ou durante a própria classificação, que poderiam nos bater naquele final de semana.

Portanto, quando prometi para Eloise Piquet, enquanto ela tomada um café naquele calor de quase trinta e cinco graus celsius, que seria pole na Austria, eu estava apostando em um terreno seguro. A pole já era minha antes mesmo de eu entrar no carro, eu só teria de ir buscá-la.

O que era definitivamente diferente da promessa - talvez estúpida - que eu havia feito à Penelope Piquet há alguns minutos atrás quando a pequena monegasca veio até a garagem da Ferrari para me desejar boa sorte. Sim, era estúpido, e talvez até um tanto quanto cruel, fazer uma promessa a qual você não sabe se realmente poderá cumprir à uma criança. Especialmente quando a promessa não depende exclusivamente de você. Mas como eu não iria a prometer que ganharia a corrida de hoje quando ela fez questão de vir até o box da Ferrari para me ver e desejar boa sorte pessoalmente? Como eu não iria a prometer que ganharia a corrida quando ela fez questão de dizer que estava torcendo para mim quando uma de suas pessoas favoritas do mundo toda estaria no carro que largaria a poucos metros atrás de mim? Como eu não prometeria uma vitória com a Ferrari a uma pequena monegasca viciada em corridas quando eu mesmo fora um pequeno monegasco viciado em corridas?

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