Capítulo 11

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Elo's p.o.v

O sol começava a se por quando finalmente cheguei em meu destino, o Café Parisien. O melhor Café, não apenas de Mônaco, mas do mundo. Pelo menos pra mim. Mas eu não saberia dizer se era pelo café em si - que, sim, era muito bom - ou pela memória afetiva.

Apesar de renegar o mundo do automobilismo, eu era filha de um tricampeão mundial de Fórmula 1. E, como de preste para qualquer piloto da maior categoria do automobilismo, meu pai morou em Mônaco por um tempo. O quê me levou a morar em Mônaco por um tempo. E, apesar de ter nascido em Hamburgo, tal qual Kelly e Nelson, eu passei uma pequena - mas revigorante - parte da infância em Monte Carlo. Essas antigas ruas foram meu lar até os seis anos de vida, antes de ir morar no Brasil em definitivo. E talvez, de lá para cá, eu nunca tivera oportunidade de percorrer essas ruas com calma antes, e um sentimento de nostalgia me invade.

Eu era pequena durante o período em que morei no Principado e não haviam tantas lembranças dali como eu gostaria. Porém, haviam alguns lugares de Mônaco que moravam em meu coração - e o Café Parisien certamente era um deles.

Assim que entro na tradicional pâtisserie do Principado, o aroma aconchegante de café fresco misturado com o frescor dos doces invadem as minhas narinas, e eu sinto com se voltasse no tempo. Aquele lugar continuava exalando os mesmos aromas da minha infância, e isso aquece meu coração. Não de uma forma óbvia, mas de uma forma que nem eu mesma sabia que precisava. Era bom ter um sentimento de pertencimento em momentos confusos como este.

Em poucos minutos eu já estava aguardando meu café e uma fougasse, que apenas o Café Parisien poderia me proporcionar. Eram momentos de paz. Eu escolho uma mesa na área externa coberta, com vista privilegiada para as ruas de Monte Carlo. E me sinto feliz. O dia havia sido pesado. E terminar naquele lugar, com sabor de infância, parecia um prêmio de consolação.

Após alguns minutos de espera, noto a silhueta de um homem se aproximando, e deduzo ser o garçom trazendo o meu pedido.

Mas não era. Óbvio que não era. Porque absolutamente nada pode ser tão simples assim na minha vida. E, apesar da linda vista, me arrependo de ter virado a cabeça para conferir quem estava se aproximando.

- Eu achei que fosse você. - fala Charles tímido. - Quer dizer, quando eu passei na rua, achei que pudesse ser você. - O monegasco estava sem jeito. Pelo visto, eu não era a única arrependida ali. - Eu achei que seria coincidência demais nos encontrarmos duas vezes no mesmo dia, mas...

- Mas o café daqui é ótimo e, no final das contas, Mônaco é pequena. - eu o corto terminando a frase. Ofereço a Charles um sorriso tímido indicando que ele poderia se juntar a mim na mesa, se quisesse. E ele (in)felizmente aceitou.

- Você conhece aqui? - questionou ele um pouco surpreso.

- Costumava vir quando era pequena. Mas fazia anos que não vinha. É bom ver que continua praticamente do mesmo jeito. 

- Você vinha com frequência para o principado quando era pequena? - o monegasco continua com seus questionamentos. E eu começo a pensar no porquê.

Haviam algumas alternativas para essa resposta. A) Charles estava com medo que eu fosse mencionar algo a respeito do nosso embaraçoso encontro mais cedo. B) Charles estava com medo dele mesmo deixar escapar algo sobre o ocorrido - e ser a pessoa a fazer as perguntas tornava isso mais difícil. C) Charles estava genuinamente curioso - alternativa possível, mas pouco provável. Afinal, por que diabos Charles Leclerc gostaria de saber esse tipo de informação sobre mim e minha infância?

E está resposta me atormentava e causava borboletas no meu estômago na mesma proporção. Se Charles genuinamente gostaria de saber alguma informação sobre mim apenas por saber, então Max estava certo. Charles está tão confuso quanto eu. E isso não era ruim.

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