Elo's p.o.v
9 de julho 2022, Sábado.
Spielberg, Austria.
13h 16min.
Desde pequena havia uma série de coisas aleatórias que - por algum motivo desconhecido - eu simplesmente odiava. Não havia um motivo. Não havia uma lógica que explicasse. Na verdade, em sua gigantesca maioria eram coisas que as pessoas apreciavam - e muito. Mas que eu simplesmente odiava. Dentre as principais coisas da minha lista odiados aleatórios estavam, desde que eu me entendia por gente: canela, pêssego, chinelos de dedos, e... laranja.
Eu jamais saberia explicar o porquê, mas o resultado da mistura de vermelho e amarelo me causava um arrepio na espinha. E não em um bom sentido. Eu não sabia se era a intensidade, a vivacidade ou o quer que se seja. Eu simplesmente odiava a cor laranja com todas as minhas forças. Era um ódio tão profundo, que fora extendido para a pobre da fruta.
Não havia um único objeto laranja em minha casa. Muito menos no meu guarda roupa. Eu evitava até mesmo alimentos da cor laranja, dependendo da tonalidade - se muito forte, não haveria a mínima chance de que eu apreciasse.
E tal fato, sem a menos sobrade dúvidas, tornava ver aquela poluição visual muito mais dolorido e agonizante do que deveria ser. E nem era tão ruim assim, de acordo com Kelly eu só estava impressionada porque ainda não havia visto Max correr na Holanda. E, honestamente, não pretendia.
Eu quase fico enjoada só de pensar. As arquibancadas não eram mais definidas, havia apenas uma grande fumaça laranja, que de tão gigante que era, estava quase tomando o céu.
Eu apenas respirava fundo. A cafeteria estava mais perto do que longe, e logo eu teria um café quente e forte para acalentar meu coração, e fugir daquele pesadelo laranja. E o pior de tudo era que eu havia entrado naquela situação por livre e expontânea vontade. Ou quase isso.
Após o desastre - previsível - da corrida em "família", Kelly e Lazslo se sentiram culpados - com toda razão, para ser sincera. Mas se eles apenas se sentissem culpados, estava de bom tamanho. Porque isso significava que não tentaria outra reunião daquelas tão cedo, e, talvez, eu até mesmo fosse liberada do tradicional Natal da Família Piquet. Mas era óbvio que eles não iriam apenas se sentir culpados. Eles precisavam me recompensar, fazer algum gesto que demonstrasse seu arrependimento profundo e sua culpa depreciativa. E a recompensa era, a princípio, alguns dias com eles em Mônaco, aproveitado o verão europeu e as belezas do Mar Vermelho. O que era uma boa recompensa. E seria um tempo realmente bom com eles. Se não fosse pelo intrometido número um do Universo: Max Emilian Verstappen.
"Vocês precisam ir no Red Bull Ring". Sete vezes. Essa fora a quantidade de vezes que eu contei - fora as que eu estava cansada demais para contar - que Max havia dito que precisávamos ir na corrida. Que aquele era o circuito mais legal, um dos seus favoritos. Que a gente ia amar. E blablabla.
Eu estava decidida a não ir. Aproveitar alguns dias na tranquilidade do verão europeu era tudo o que eu precisava no momento. Mas era óbvio que meus irmãos teriam uma opinião diferente da minha. E por mais que eles dissessem que, se eu realmente não quisesse ir, nós ficaríamos em Mônaco, era óbvio que não ficaríamos - era óbvio que a opção onde eu escolhia não ir não existia. E, para ser sincera, Max estava sendo tão legal comigo desde a noite do restaurante, que eu não tive coragem de dizer não. Pelo menos não olhando diretamente nos seus olhos, quando ele fazia uma cara de cachorro que caiu da mudança.
E assim eu vim parar nessa nuvem sufocante laranja. Que agora, por sorte, estava começando a ficar para trás. E que assim ficasse.
O café era um ambiente moderno, e o deck com vista para a pista era realmente bonito. Era tão bonito que fazia até mesmo aquela nuvem laranja parecer um pouco menos horripilante. Foi o que passou pela minha mente quando sentamos em uma mesa com vista privilegiada para a pista e para as arquibancadas - e, infelizmente, para a torcida laranja. Eu daria tudo para estar trocar esse mar laranja pelo mar vermelho.

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SHIVERS
Hayran KurguEloise Piquet era, como seu pai gostava de lembrar, "a filha desviada". Vinda de uma família que respirava automobilismo, Eloise sempre ignorou todo o peso que seu sobrenome tinha nas principais categorias do automobilismo mundial. Ela odiava esse m...