Capítulo 22

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Elo's p.o.v.

Não.

Não.

Não.

Eu ensaio mentalmente algumas vezes antes de conseguir finalmente pronunciar aquela palavrinha tão simples, mas tão difícil.

Não. - eu respondo firme sem nem mesmo me dar ao trabalho de virar para o encarar. Me orgulho internamente da firmeza na voz. Ser uma atriz tinha de ter alguma vantagem. Eu não iria sair correndo chorando daquela cafeteria, mas isso não significava que eu tivesse alguma intenção de conversar com ele. Eu seria a Suíça. Eu seria neutra.

- Por favor. - ele fala com a voz calma.

- Não. - eu repito ainda sem me virar para lhe encarar. As chances de eu ceder se me virasse eram altas demais para arriscar, e eu sabia disso. Permanecer de costas, além de trazer um ar de desprezo, era a opção mais segura.

- Eu te devo algumas respostas. - ele fala em um tom mais baixo, quase como uma confissão. E é a raiva é mais forte do que eu. Então cometo o terrível erro de me virar apenas para encontrar aqueles malditos olhos verdes.

Eu poderia odiar Charle Leclerc - em meus pesadelos. Poderia dizer para mim mesma que ele era todas as coisas ruins do mundo. E eu poderia até mesmo acreditar nisso. Contanto que eu não tivesse que o encarar. Seus olhos cor de esmeraldas brilhavam mais do que nunca e, mesmo que eu quisesse dizer não, que eu quisesse o odiar, era simplesmente humanamente impossível odiá-lo quando ele era o dono daqueles olhos.

Charles não havia mudado muito desde a última vez que eu o vira, naquele terraço em Mônaco. Pelo menos não por fora. Com exceção dos cabelos, que agora estavam uns dois centímetros mais compridos e despenteados, e leves olheiras - cortesia da Ferrari, eu imagino -, ele seguia o mesmo. O ser mais bonito do Universo. Que ódio.

- Você não me deve nada. - tento manter o tom firme de antes, sem muito sucesso.

- Talvez não, mas eu realmente acho que você merece algumas explicações. - sua voz se mantinha calma, mas seus olhos mostravam que ele não estava tranquilo por dentro. Eles suplicavam por um sim. Eu apenas respiro fundo.

- A gente não pode simplesmente esquecer aquele momento e seguir em frente? - agora era eu quem quase suplicava. Eu não queria esquecer aquele momento. Por mais doloroso que fosse o pós.Se sofrer como uma condenada, exilada em Nova York fosse o preço por ter beijado Charles Leclerc, tudo bem, era um preço que eu estava disposta a pagar. Mas escutar a suas explicações? Talvez fosse um preço que eu não tivesse como pagar.

Eu passei noites e dias em claro esperando por aquelas respostas. Por que você não ficou? Por que você foi um grande imbecil? Por que você não ligou?

Eu desejei tanto essas respostas. Mas agora, quando eu posso finalmente tê-las, eu não tenho certeza se realmente as desejo. Talvez, no final das contas, eu deveras fosse uma grande covarde.

Covarde. Covarde porque eu preferia viver com a dúvida do que encarar a verdade de frente. Covarde porque eu preferia seguir sem minhas respostas a ter que lidar com um pé na bunda de Charles Leclerc.

- Se é o que você realmente quiser, eu vou respeitar a sua vontade. - Charles inicia olhando fundo em meus olhos. Tão fundo que talvez ele conseguisse ver a minha alma. - Mas não é o que eu quero. - também não é o que eu quero - E eu realmente gostaria de poder de dar algumas explicações e se depois disso você nunca mais quiser olhar na minha cara, tudo bem, eu vou respeitar você. - ele faz uma pausa. Charles respirava fundo. - Eu sei que eu não tenho direito de te pedir nada, mas eu sou canalha o suficiente para pedir que você me escute. Por favor. - pedir, não. Charles Leclerc suplicava. E por mais que meu cérebro repetisse não, não, não, meu coração só sabia dizer sim, sim, sim.

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