Capítulo 21

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Charles's p.o.v.

1º de julho 2022, sexta-feira.

Silverstone, UK.

10h 07min.

- Você está simplesmente insuportável hoje. - Lando fala para Max após mais uma resposta atravessada do Holandês. Eu não prestava atenção na conversa, nem mesmo sabia o assunto, mas não era preciso saber para perceber o óbvio. Um simples olhar para sua carranca era o suficiente para saber que Max estava excepcionalmente mal humorado hoje. E ele não costumava ser exatamente bem humorado no restante dos dias.

- Hoje não, Lando. Por favor. - Max quase suplicava enquanto fechava os olhos e passava as mãos no rosto.

- Não sei o que está se passando com você, mas eu certamente não sou o culpado. - Lando seguia reclamado. E eu não conseguia distinguir o que era mais estressante: o mau humor de Max ou Lando querendo discutir a relação. - Charles é sacaneado pela equipe todo santo final de semana de corrida e não desconta na gente. - O inglês dá um jeito de me trazer de volta a conversa e eu não sabia se era apenas um argumento ou se ele havia percebido que eu não prestava atenção em uma única palavra deles há muito tempo.

- Obrigado pela parte que me toca. - volto a conversa a contra-gosto. Eu gostaria de revidar e dizer que Lando estava errado. Mas a está altura do campeonato não havia o que discutir. Nem Max, nem Checo. Além de mim mesmo, o maior oponente em 2022 estava sendo minha própria equipe. E isso era uma verdade imutável.

- Eu não quis ofender. - Lando acrescenta após perceber minha expressão de desgosto.

- Você com certeza foi muito agradável para alguém que está reclamando de mim. - Max ironiza. - E eu não estou mal humorado, só estou extremamente preocupado.

- Não me diz que você ainda está preocupado porque o sogrão vai vir ver você correr. - Lando fala incrédulo. - Achei que Max Verstappen não tinha medo de nada, pelo visto Nelson Piquet foge a regra. - ele fala rindo. E, de repente, após muito tempo, aquela conversa começa a se tornar interessante para mim.

- Eu não tenho medo dele. - Max rola os olhos. - Mas...

- Tudo bem, se algum de nós tivesse um tricampeão mundial como sogro também ficaria nervoso, não é mesmo Charles? - Lando fala cortando Max. E eu fico sem jeito. Eu nunca havia conversado com Max sobre o que acontecera em Mônaco, mas pela sua reação não era necessário. Era óbvio que ele sabia. E eu o agradecia mentalmente por nunca ter trazido esse assunto a tona.

- Não é por mim que eu estou nervoso. Quer dizer... - o holandês faz uma pausa - não tenho as melhores memórias de Silverstone, mas não é por mim que eu estou nervoso. Eu me dou muito bem com Nelson, se você tem tanto interesse assim em saber Lando, mas eu estou realmente preocupado com Eloise. - e então eu gelo. E desconecto novamente daquela conversa. Porque era isso que a simples menção àquele nome fazia comigo. Principalmente depois de Mônaco.

Eu errei. Eu sabia que tinha errado. E que tinha errado feio. Eu havia traído Charlotte. E por mais que nossa relação não estivesse no seu melhor momento, eu havia errado com ela. Eu não tinha direito de a trair.

Mas o pior era o fato de que eu sinceramente nem ligava mais para isso. A culpa por ter traído Charlotte não era nada comparada com a dor de saber que eu tinha machucado Eloise. E isso não era algo do qual eu me orgulhava. Mas não era como se fosse algo controlável. Havia algo de magnético em Eloise Piquet.

Após a noite em que eu finalmente tive coragem de beijá-la, ser rejeitado doeu muito mais do que eu imaginava. E foi nesse exato momento que eu soube o quão fodido eu estava. Nenhuma das coisas terríveis que eu e Charlotte havíamos dito um para o outro nos últimos meses chegara perto de quebrar meu coração como quando Eloise pediu - praticamente suplicou - para que eu saísse e a deixasse para trás. E então eu cometi um erro ainda pior: eu a obedeci. E o que já estava ruim e confuso apenas piorou do momento em que eu coloquei os pés para fora daquele terraço.

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