Capítulo 9

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Charles's p.o.v.

- Amanhã é apenas o primeiro dia de treinos, você precisa relaxar um pouco. - fala Lorenzo tentando me convencer a tomar uma taça de vinho.

- Eu consigo relaxar apenas com minha água com gás. - respondo levantando o copo de água a minha frente.

Meu irmão estava correto, eu precisava relaxar. E talvez apenas água com gás não fosse resolver. Mas beber estava completamente fora de opção. Meu histórico com Mônaco não me dava margem alguma de erro. Se eu quisesse trazer o trofeu de primeiro lugar para casa, eu precisa ser perfeito. E eu faria o possível e o impossível para isso.

A verdade é que haviam algumas coisas que não me deixavam relaxar. Primeiro, o final de semana da Espanha havia sido desastroso. O meu abandono na corrida associada à vitória de Max nos levou a inverter as posições no campeonato. Portanto, a vitória em Mônaco significava mais do que apenas uma realização pessoal, um sonho de criança, significava a liderança do principal campeonato de automobilismo do planeta - um outro grande sonho de criança.

Segundo, meu histórico em Mônaco falava por si só. Não estou nem me referindo ao fato de nunca ter ganhado meu GP natal. Se contabilizar desde meus tempos de F2, eu nunca fui capaz nem mesmo de terminar a corrida em minha cidade natal. Por mais que eu amasse Monte Carlo, ela parecia não me amar da mesma forma.

E falando em amor, vem o terceiro motivo que não me permitia relaxar. Após minha decepção por Eloise Piquet não ter assistido a corrida em Miami, eu havia decidido que iria esquece-lá por completo. Mas eu estaria mentindo para mim mesmo se dissesse que não passei na frente dos boxes da RBR todos os dias durante o final de semana em Barcelona a procura dela. E nem mesmo sabia dizer se me sentia culpado ou não por isso.

Esse era para ser o meu ano. E cá estou eu, preso em um relacionamento falido, cobiçando a cunhado do rival, e falhando miseravelmente no campeonato. Talvez, no fim das contas, esse ano não poderia ser mais Charles Leclerc do que isso. Um tremendo fracasso.

Eu poderia não ter total controle sobre o campeonato. Mas eu tinha controle sobre a minha vida - não sobre o coração, mas algum controle sobre o cérebro ainda me restava. E eu não iria ceder a nenhum drama. Eu iria me concentrar no campeonato, e iria, aos poucos, reconstruir meu relacionamento com Charlotte. O que me deixava angustiado era não saber até que ponto eu insistia nesse namoro por amor a Charlotte ou por acomodação.

Brigas em relacionamentos são complicadas, mas nada supera términos. E eu não tinha tempo ou energia para isso. Em suma, eu sou um grande covarde - ou cretino, tanto faz.

- Vocês não vão acreditar no que eu fiz. - minha mãe inicia ao retornar à mesa em que estávamos. Ela ficava cada vez mais roxa ao contar a história de como tinha destruído a roupa branca de uma estranha com o seu vinho tinto. E eu não sabia dizer o que era mais engraçado, a história em si ou minha mãe contando.

- E depois vocês não saber o porquê eu sou desastrado, total culpa da dona Pascale. - Fala Lorenzo.

- Você não é desastrado, - inicia Arthur - é apenas um grande perigo à sociedade. - O mais novo é recebido com um revirar de olhos do mais velho.

- Você fala como se fosse muito diferente. - retruco. Arthur de fato não era a pessoa mais habilidosa do universo para criticar Lorenzo. Além disso, meu papel como irmão do meio certamente era colocar mais fogo na fogueira.

Parecia que uma discussão acalorada - e deliciosa - estava se aproximando. E eu finalmente estava conseguindo relaxar. Até que uma atitude impensada compromete a minha paz - do momento e provavelmente do final de semana inteiro.

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