Capítulo 4

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Elo's p.o.v.

A corrida foi mais interessante do que eu imaginava. Max liderou a prova de ponta a ponta - eu não sabia se meu plano havia tido alguma interferência, porém esperava que sim, eu gostaria de levar um pouco de crédito. Mas ele não era o meu atrativo principal na competição. Eu estaria mentindo se dissesse que me preocupei com alguma outra coisa que não fosse o carro dezesseis. E eu estava me odiando por isso. Primeiro porque ele era o concorrente. E segundo, Charles Leclerc tinha uma namorada. 

Nos minutos em que fiquei bebendo enquanto aguardava o início da corrida, tive a péssima ideia de digitar o nome dele na procura do Instagram. E lá estava ela, mas presente do que ele próprio em seu feed, Charlotte Sine. Se Charles já era um fruto proibido antes, agora era inimaginável.

Ou pelo menos deveria ser. Por mais que eu tentasse, não consegui desviar meus olhos do carro vermelho número dezesseis durante as sessenta e três voltas da corrida. E eu estava me odiando muito por isso. Muito mesmo

Eu não dei bola quando o companheiro de equipe ameaçou a posição de Max. Mas senti meu coração quase parar quando Charles saiu rodando da pista. E, a partir daquele momento, minha atenção era toda da recuperação da Ferrari que havia quase batido. Eu não vi - e nem mesmo me importei - quando Max passou em primeiro lugar pela bandeira quadriculada. Ao mesmo tempo, fiquei imensamente contente de ver que Charles recuperou algumas posições e conseguiu terminar em sexto.

E eu estava me sentindo culpada. Torcer para o concorrente não era exatamente pecado - mas era errado. Era errado principalmente quando Max era mais que um irmão para mim. Era errado quando quando eu não conseguia tirar aqueles olhos verdes da cabeça. E, talvez o mais importante de tudo, era errado quando Charles tinha uma namorada e eu não conseguia - ou queria - parar de pensar nele.

Eu espero alguns longos minutos após o final da corrida para sair do restaurante. Eu já estava com a cabeça cheia demais para ter que tirar fotos ou o que quer que fosse. Esperar que o autódromo esvaziasse um pouco me parecia a escolha mais sábia. E assim o fiz.

Se por um lado foi bom ter poucas pessoas do lado de fora ao sair do restaurante, por outro, ficara ainda mais fácil me perder no paddock. E assim o fiz.

Eu estava a mais de vinte minutos tentando encontrar a saída, e de alguma forma fui parar na área privada das equipes. Senso de direção definitivamente não era uma qualidade que eu poderia contar.

Eu estava quase pedindo uma trégua e ligando para minha irmã vir me resgatar quando vi uma figura conhecida. No final das contas, nós realmente atraímos aquilo que pensamos. E lá estava ele, Charles Leclerc, mais lindo do que nunca, saindo do seu motorhome.

Eu gostaria de poder evitar o contato com ele, pelo bem de todos. Mas eu estava perdida. E essa me parecia uma boa desculpa para burlar as regras. Charles Leclerc era estritamente proibido, mas por algum motivo muito bobo, eu queria muito, nem que fosse apenas estar perto dele.

- Charles? - grito na esperança do moreno me escutar.

E meu desejo foi atendido. Ele me escutou e prontamente veio em minha direção. Um pânico começou a tomar conta de mim. Eu queria muito a presença dele, mas não fazia ideia do que falar. Eu havia o gritado no impulso. E agora estava perdida.

- Ainda por aqui? - ele parecia surpreso. E eu estava grata por ele ser o primeiro a falar.

- Achei melhor esperar o movimento passar. - e então um silêncio se instala. A verdade era que não havia o que falar. Chamar ele fora um péssima ideia. E agora, aqui estava eu, novamente perdida naqueles malditos olhos verdes. E assim ficamos por um período que poderiam ser segundos, minutos ou horas. Eu não saberia dizer. O tempo parava quando os olhos de Charles Leclerc eram as únicas coisas que me prendiam na Terra.

- Como foi o plano? - ele fala quebrando nosso silêncio, e eu não sabia se o agradecia ou xingava. Charles olhava para o boné vermelho na minha cabeça agora, e certamente estava se perguntando que fim teve a sua jaqueta. E eu estava em pânico com a ideia de ter de explicar.

- Um sucesso, tive que assistir a corrida do restaurante. - ele solta uma gargalhada. Aquele fora provavelmente o som mais bonito que eu já escutara na vida. Não consigo conter o sorriso. - Eu preciso te contar uma coisa, e espero que você não fique chateado. - eu chamo a atenção do monegasco que me olho preocupado. - Depois de ter sido convidada a me retirar do box da RBR, enquanto estava indo para o restaurante, eu encontro um pequeno fã da Ferrari, todo de vermelho, chorando. - faço uma pausa para respirar e pensar em como iria falar o que havia feito com a jaqueta.

- Um tifosi. - ele acrescenta me deixando confusa. - Como são chamados os fãs da Ferrari. - ele explica ao notar minha expressão.

- Pois bem, um pequeno tifosi chorando. - reformulo a frase - Eu fui até ele, e a mãe disse que ele estava muito triste porque não tinha conseguido ver você...

- Então você deu a jaqueta para ele. - Charles termina minha frase.

- Você provavelmente ia querer a jaqueta de volta e eu não deveria ter feito isso sem autorização mas...

- Você não precisa de desculpar. - ele fala segurando minhas mãos me fazendo parar de gesticular e falar desesperadamente. - Eu tenho certeza que você fez o dia desse tifosi muito feliz, muito mais do que eu. - havia um amargo nessa última frase. Charles não havia ficado contente com a sua corrida, e não precisava de muito para reconhecer isso. - O único problema é que agora você é a tifosi sem jaqueta. - ele retruca sorrindo. E que sorriso

- E quem disse que eu sou uma tifosi? - falo tentando abalar a confiança de Charles, que parece surpreso com a minha resposta.

- E não é? - ele provoca.

- Não. - retruco - Mas posso me tornar. - eu podia jurar que uma chama se acendera nos fundos dos olhos verdes do monegasco.

- Então eu espero você no box da Ferrari em Miami para pegar a sua nova jaqueta. O que me diz futura tifosi? - Leclerc estende a mão. Aquilo me parecia um desafio, e eu não desistiria daquilo por nada.

- Estarei lá as 8h em ponto na manhã de domingo. - respondo apertando a sua mão. E um choque percorre meu corpo. Eu não sabia se Charles também sentira o choque e fora apenas discreto o suficiente para fingir que nada havia acontecido, ou se realmente não havia sentido nada. Mas a reação envergonhada do piloto me levava a acreditar na primeira opção. E minha teimosia também. Eu gostava da ideia de que Charles Leclerc também tivesse sentido nossa energia em movimento também.

Eu estava em êxtase. Tão em êxtase que nem fiquei quando Charles se despediu e foi embora me deixando perdida ali. Afinal, aquilo não era um tchau, era um até logo. E por mais errado que fosse, eu continuava a sorrir pensando que tinha um encontro marcado com Charles às 8h do domingo de corrida.

Charles Leclerc me trazia uma sensação tão boa que nem mesmo me abalei enquanto Kelly me xingava no outro lado da linha. E isso talvez começasse a ser perigo. 

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