Capítulo Doze

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Oi gente, o capítulo não ficou tão grande, mas queria trazer assim pra introduzir esse momento logo.

–Como é possível que você parece estar em todo lugar e em nenhum lugar ao mesmo tempo? – Estava indignada, essa mulher sempre parecia saber de onde eu vinha, pra onde eu ia, como ela fazia isso?

Um pequeno sorriso surgiu em seus lábios e ela me puxou para um canto mais reservado.

–Eu te disse, cara… eu sempre sei de tudo que acontece aqui dentro.

–O que foi? – Me afastei um pouco, fitando seus olhos escuros. Seu cabelo preto estava solto e caía pelo ombro.

–Vamos conversar. Não aqui, na minha cela.

–Ok.

Seguimos até sua cela, me surpreendi, nunca havia visto o interior dela. O tamanho era praticamente o mesmo, um pouco maior pelo fato de conter um chuveiro, além do vaso sanitário. A diferença era que era mais organizada, parecia mais limpa e tinha uma mesa no canto com uma cadeira.

–Primeiro, você é muito idiota por ter feito algo que aquela velha te pediu.

–Ela me culpou pelo que você fez com ela e disse que eu devia um favor. – Interrompi antes que continuasse a falar.

–Segundo, que você precisa parar de pensar que todo mundo aqui quer te ajudar, que a voz mansa dessas detentas não têm segundas intenções.

–E você? A sua voz mansa não tem segundas intenções? – Ela sorriu com minha pergunta.

–Não vem ao caso agora.

Savoia se sentou na cama e indicou para que eu sentasse na cadeira.

–Qual o motivo disso? Dessa conversa.

–Eu preferiria que você falasse antes, mia cara.

Será que ela sabia de alguma coisa? Sabia o motivo de eu estar aqui? Eu não iria falar nada antes de saber que podia confiar nela. Até agora ela não tinha me feito nenhum mal, mas eu era da polícia, se ela soubesse, poderia agir de outra forma.

–O que quer que eu diga?

–Você me irritou desde o momento que chegou aqui. Percebi que era diferente e percebi que havia uma bondade, uma empatia que não se encontra num lugar como esse. – A italiana se levantou, veio até minha frente e se abaixou para ficar na mesma altura dos meus olhos. – E você me desafiou… foi contra o que eu disse mais de uma vez… e eu tenho uma reputação a zelar aqui.

–Por que?

–Porque eu vou passar muito tempo aqui dentro e prefiro que essas mulheres tenham medo de mim. Como você acha que consegui fazer com que Muralha me respeitasse? Você acha que ela simplesmente te soltaria como eu mandei fazer ontem?

Não respondi. Eu sabia que sua reputação não era de graça. Todas aqui eram capazes de fazer coisas horríveis, mas poucas realmente faziam e eu tinha impressão que Savoia era do grupo que fazia.

–Então preciso que você pare de me desafiar, para de fazer o que quer que esteja fazendo, porque por algum motivo que espero que você me diga, seu lugar não é aqui. – Ela enfatizou quando disse “você”.

–Savoia? – Uma voz interrompeu e no mesmo instante ela ficou de pé, se afastando da cadeira onde eu estava sentada. Sua expressão se fechou e Júlia surgiu na porta.

O que Savoia via nessa mulher era outro mistério. Mas eu também não a conhecia bem para poder julgar, ainda assim gostaria de entender.

–Estou ocupada, Júlia. Algum problema?

–Ocupada com ela? – A garota me olhou com desdém.

–Sim, ocupada com ela. Nós conversamos depois.

Uma parte interna de mim ficou satisfeita com isso. Júlia me odiava gratuitamente, ela mereceu esse fora.

Indignada, a garota saiu, nos deixando a sós novamente. Savoia suspirou e passou os dedos nas têmporas, um claro sinal de cansaço ou estresse.

–Você vai ser transferida, não vai? Preciso que confie em mim e fale o que precisa falar.

–Não é mais fácil você confiar em mim? – Rebati, não confiava nela, não ainda.

–Não, porque eu tenho mais a perder do que você.

O alarme soou, indicando o horário de almoço, eu precisava sair dali e pensar antes de dizer qualquer coisa. Eu tinha quase certeza agora que Savoia desconfiava de alguma coisa, ou se não sabia quem eu era ao menos.

Juntando as peças na minha cabeça, ainda não fazia sentido o modo como ela agia comigo, mudando seu humor a cada dez minutos. Sabia que essa situação era oito ou oitenta, daria tudo errado ou tudo certo.

–Estou com fome. – Falei me levantando.

–Fugindo?

–Não, apenas estou com fome.

A mulher se aproximou, o bastante para que me fizesse dar uns passos pra trás e ficar entre ela e a mesa. Seu rosto ficou bem próximo ao meu e meu coração acelerou de uma vez só, achei que fosse sair pela boca. Ela desviou um pouco até que sua boca ficasse mais próxima à minha orelha.

–Não precisa ficar com medo de mim, estou te garantindo que não vou morder. – Sussurrou no meu ouvido e se afastou com um pequeno sorriso. – Vamos almoçar.

Traduções:

Mia cara: minha querida

A Incógnita Savoia (PRÉVIA)Onde histórias criam vida. Descubra agora