A única coisa que me impedia de ter um surto de nervos era o fato de estar numa fila com mais seis detentas, não era a melhor hora de chamar atenção para mim. Desde o momento que aceitei fazer isso, comecei a me perguntar se eu realmente conseguiria e estando aqui agora, sinto que vou fracassar.
Uma semana atrás meu chefe me procurou em minha sala na delegacia, estava quase acabando meu turno e eu já estava organizando minhas coisas na mesa, odiava deixar bagunçado e ter que chegar no outro dia para arrumar.
–Diana, preciso falar com você.
–Agora, Walter? – Perguntei num tom brincalhão e ele bufou.
–Ninguém tem mais respeito por mim nesse lugar.
Era o contrário, todo mundo na delegacia amava Walter e tratava ele como um pai e um excelente chefe, resultando algumas vezes certas brincadeiras para irritá-lo, nunca ultrapassando os limites, claro.
–Sente-se. – Apontei para a cadeira em frente minha mesa e me sentei também.
–Estamos com um problema sério, Diana. – Walter costumava usar esse tom só quando realmente era muito sério, o que já me fez ficar aflita com o que viria.
–Já não estou gostando do que você irá me falar.
–Está acontecendo uma investigação sobre uma mulher e até o momento ninguém conseguiu a informação que precisamos, é um caso grande, internacional. – Servi um copo de whisky para ele e para mim enquanto ele falava. – Como sabemos, você é uma ótima detetive e precisamos que consiga essa informação o mais rápido possível.
–Certo, e por que isso é tão sério? Não é o meu trabalho de todos os dias?
Ah, eu sabia que tinha mais coisa. Walter não viria pessoalmente até minha sala para falar de um assunto qualquer, um trabalho qualquer.
–O problema é que essa mulher já está presa. – Ele tomou seu copo de whisky e me olhou novamente, com aquele olhar sério. – E antes que você me pergunte, já fizeram todo tipo de interrogatório com ela e a desgraçada não abre a boca para falar o que precisamos.
–E onde eu entro nisso? Se ela já está presa, não tenho o que fazer. Pelo que você está me dizendo, é um caso bem importante e duvido que já não tenham cavado todo o tipo de informação sobre ela e qualquer pessoa envolvida.
Walter se levantou e coçou a cabeça, estava ansioso demais e eu já estava começando a me sentir da mesma forma.
–Fale de uma vez o que eu tenho a ver com isso.
–Me pediram pessoalmente que viesse falar com você para esse trabalho. Querem que você faça um papel de infiltrada dentro do presídio e se aproxime ou faça o que for necessário para conseguir a informação dessa mulher. – Walter suspirou, parecendo aliviado de ter colocado pra fora.
Naquele momento tive certeza de que isso estava sendo planejado há mais de uma semana, por isso ele e seu assistente andavam me evitando. Eu odiava surpresas, odiava fazer as coisas sem antes analisar cem vezes se preciso e eu sabia que esse era um dos momentos que eu seria obrigada a fazer isso.
–Deixa eu ver se entendi, eu preciso me passar como detenta, me aproximar de uma criminosa provavelmente muito perigosa e influente e conseguir essas informações dela, coisa que ela não falou depois de diversos interrogatórios. – Resumi à contra gosto.
–Basicamente isso. – Walter forçou um sorriso gentil. – Pode ter certeza que se aceitar, nós sempre estaremos de olho em você, não deixaríamos nada de ruim te acontecer, Diana.
E cá estou eu nessa fila maldita, com um uniforme nas mãos, aguardando para ser revistada cada parte do meu corpo, muito emocionante.
Eu era a última da fila, por sorte ou azar. Cada vez que eu dava um passo à frente meu coração parecia querer sair pela boca. O combinado era eu ser tratada exatamente como qualquer prisioneira seria tratada, para parecer o mais real possível. Óbvio que no início eu odiei a ideia, quis recusar, quis fugir, mas eu sabia desde o momento que Walter veio conversar comigo a primeira vez que seria um grande passo na minha carreira caso tivesse sucesso e eu estava contando com isso.
Evitei pensar na possibilidade de fracassar e sofrer tudo isso atoa, tinha colocado na minha cabeça que faria o possível e o impossível para conseguir o necessário.
–Anda logo, detenta. – Eu era a próxima e a guarda me olhava com cara de poucos amigos, impaciente com minha enrolação.
Havíamos combinado também que quanto menos pessoas soubessem, mais real pareceria e ninguém desconfiaria. Walter já havia me alertado sobre a propina que rolava dentro de presídios e eu não era estúpida e inocente pra acreditar que não funcionava assim ali. Muita gente era comprada e isso mantinha a calma, dizia Walter.
–Pode retirar suas roupas e acessórios, colocar naquela cesta e esperar para ser revistada. – A guarda provavelmente estava na casa de seus quarenta anos e parecia exausta, entediada. Ela apontou para dentro de uma sala, onde havia um vestiário sem portas ou cortinas e uma outra guarda me esperando. Tomei coragem e entrei.
Eu já tinha trabalhado com muita coisa perigosa, enfrentado diversos tipos de pessoas que poderiam ser consideradas arrepiantes, mas acredito que eu nunca tenha sentido tanto medo de um trabalho como esse. Mesmo sabendo que nada de grave me aconteceria, que sempre estariam me vigiando pelas câmeras, estava apavorada e admitir isso me ajudava a continuar andando.
Retirei minhas roupas, que não eram muitas e caminhei para a frente da mulher, que parecia ainda mais entediada que a outra, mas talvez estressada também, estava com o semblante fechado.
–Abra os braços e a pernas. – Ela falou grosseira e passou as mãos enluvadas pelo meu corpo. – Agora abaixe-se com as pernas abertas.
Certo, aquilo era humilhante. Fechei os olhos e contei até dez para ver se passava mais rápido.
–Pode vestir seu uniforme e seguir até aquela porta.
Entrei na porta que ela me indicou e lá dentro estavam as outras seis detentas que antes estavam na fila comigo. Todas vestidas com o mesmo uniforme que o meu.
Uma segurança veio até mim e fez sinal para eu mostrar as mãos, me algemando em seguida, como estavam as outras.
–Façam fila e me acompanhem.
Dei um último longo suspiro antes de entrar na fila e segui-las para dentro do presídio. A partir dali eu sabia que tudo que eu fizesse seria importante para o meu avanço no que me foi designado.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Incógnita Savoia (PRÉVIA)
RomanceDiana é detetive e é designada para um trabalho de infiltrada dentro de um presídio, para investigar Savoia, uma criminosa que possui informações extremamente importantes para a polícia. Seu objetivo é fazer o necessário para conseguir esses dados d...