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Daniel tinha razão, como vamos pagar aluguel e sobreviver com ele recebendo 1.200 reais? Eu estou sem emprego e sem seguro desemprego e era o que nos ajudava a 3 meses atrás.

A morte da mãe dele infelizmente nos deixou pior. Estamos vivendo uma fase financeira muito ruim, pouco dinheiro e muitas contas. Ao receber a notícia da morte de dona Lurdes tudo desmoronou ainda mais. Daniel estava arrasado, sem chão. E ainda tinha que resolver sobre a divisão dos bens.

A alguns anos, foi acordado que cada um dos filhos ficaria com uma das duas casas da família Beltrão, mesmo que eles não pensassem nisso e não quisessem, eles são herdeiros por direito e poderiam fazer o que quisessem com as casas.

A casa onde atualmente mora meu cunhado João, é a casa que minha sogra deixou para ele, que foi a última morada de meus sogros em vida. E a outra casa onde Daniel e eu provavelmente vamos morar, foi a casa que sua mãe viveu por alguns anos, a infância e pré adolescência de Daniel foi lá. Meu sogro faleceu a 10 anos, desde então ela vivia com meu cunhado lá.

Para ele está sendo difícil cogitar mudança para uma casa com tantas recordações da família e dos pais que não estão mais entre nós. Mas ele tem razão quando diz que não temos escolha. Pagamos 800,00 reais de aluguel, fora as contas da casa, infelizmente não sobra para comermos.

Os últimos meses sem seguro desemprego foram difíceis, mas nós nos viramos como pudemos. Vendi algumas coisas que estavam paradas, fiz alguns bicos como garçonete, mas acabou.

Com a notícia do falecimento de Lourdes, pensamos de imediato em nos mudar, mas ele está sofrendo, e não há como reverter essa dor. Ao mesmo tempo, sabemos que estamos agindo da melhor maneira possível.

Não tendo que pagar aluguel conseguiremos ao menos comprar o que comer, e ir quitando aos poucos as dívidas atrasadas. E minha esperança é encontrar logo um emprego nessa cidade que por sorte é maior e tem mais oportunidades de trabalho.

O velório foi muito triste. Dona Lourdes foi professora e por conta disso muito conhecida na cidade, antigos alunos e colegas de trabalho preencheram aquele ambiente triste. Era impossível reconhecer alguém naquele tumulto. Pude dar todo meu apoio a ele, e quando aquele dia finalmente chegou ao fim, fomos para casa conversar sobre nossa situação.

(...)

— meu bem, toma essa sopinha que eu fiz, vai te fazer bem. — entrego o prato a ele no sofá.

— eu não quero amor, obrigado. Estou totalmente sem fome.

— eu entendo que não está com fome, mas faz um esforcinho pra comer nem que seja um pouco. Você está fraco, não comeu nada o dia todo.. e está uma delícia.

— tá, eu vou tentar.

Eu cuidava o máximo que podia dele, era a única pessoa que eu tinha nos últimos anos. Desde que nos casamos a 4 anos, meu contato com minha família foi diminuindo com o tempo. Ele é de Porto Alegre, porém moramos na região metropolitana desde que nos casamos, eu sou da cidade onde atualmente moramos e onde fica o trabalho de Daniel, que atualmente é motorista de uma empresa de materiais de construção, ele que faz as entregas mais pesadas. Trabalha muito, e nunca o vi reclamar.

Doce Desejo | VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora