Capítulo 9 - Visita guiada

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— Saúdo-vos. Sejam muito bem-vindos! — O rei discursava em um palanque no segundo andar da construção, acompanhado por um homem quase da mesma idade a sua direita. — Façam da minha casa a vossa, sejam súditos leiais e prometo proteger cada um de vós. — Ele fez uma pequena pausa olhando nos olhos de cada um que encontrava-se ali, transmitindo confiança. — Cuidarei pessoalmente de novos empregos e novas moradias para cada família.

Após as suas palavras, o nosso grupo começou a bater palmas e a dar "viva ao rei". Ele fez um pequeno gesto com as mãos e os ânimos do grupo diminuíram, deixando-o continuar o seu discurso.

— Agradeço imenso os aplausos, mas não faço mais do que a minha obrigação. Serão levados para os vossos aposentos, onde irão descansar e recobrar as forças para dias mais brilhantes! — Ao proferir as últimas palavras, ele acenou para nós com um brilho nos olhos e deu-nos as costas, entrando no edifício acompanhado pela sua guarda real.

Um grupo de servos estavam apostos em fileiras com as mãos as costas à espera de instruções. Ao aproximarem-se de nós, fizeram uma pequena vénia e agarraram nos nossos pertences. Uma senhora de meia idade rechonchuda com feições simpáticas veio até nós e fez uma referência também pegando os mais velhos nas mãos.

— Sejam muito bem-vindos. O meu nome é Agnes, sou a responsável pela ala Leste do palácio. Qualquer problema que possa surgir, por favor não hesitem em falar comigo e também se precisarem de alguma coisa, estarei aqui para vos auxiliar. — Assentimos e devolvemos a referência.

Analisei-a mais atentamente. Ela vestia um vestido em tons escuros e os seus olhos cor de mel eram discretos e ao mesmo tempo tristes, como se ela tivesse visto demasiado da vida. As suas rugas de expressões eram marcantes e a sua pele já era fustigada pelo tempo.

Senti passos apressados atrás de mim e voltei para trás intrigada. Uma mulher de pés descalços e aspeto ensandecido passou por mim gritando e sentou-se no chão, rasgando a sua própria pele. Os seus cabelos eram desgrenhados e as suas pupilas quase sem vida. A sua pele era pálida, sem brilho, como se estivesse há muito tempo sem absorver um raio de sol.

Os seus olhos encontraram os meus e dei dois passos para trás assustada, caindo no chão em um banque surdo. Ela arrastou-se até mim e pegou-me na mão, apertando-a de uma forma anormal.

— O dia está próximo. Queimarão todos no fogo do inferno e pagarão pelas suas blasfêmias. Cava a verdade. Cava a verdade, Rosa Negra. — Ela soltou-me e encolhi o meu corpo, aterrorizada. Como ela sabia de tudo aquilo?

A mulher levantou-se e começou a dançar alheia as palavras ditas anteriormente. Parou por alguns instantes e encarou a senhora Agnes, sorrindo de orelha a orelha. Ela abraçou a senhora de meia idade e essa começou a chorar descontroladamente.

Agnes apertou a mulher nos braços e depois largou-a, entregando-a aos guardas. Esses agarraram-na, prendendo-a pelos braços. Ela rangeu os dentes e começou a gritar descontrolada.

— Já chega Eloise! — A senhora Agnes tentou aproximar-se com cautela da mulher, mas essa colocou-se em posição de ataque, fazendo-a recuar. — Olha o que estás fazendo, filha.

— Ele queimará. Tudo queimará. Eles queimarão. — Eloise choramingou e os guardas agarraram-na com mais força, arrastando-a do lugar. — Mãe! Meu filho! Aonde está o meu filho? — A senhora Agnes abanou a cabeça e escondeu o seu rosto nas mãos.

— Desculpem-me! É a minha filha. Ela não está bem. — A sua voz saiu rouca e fugiu para fora do pátio transtornada.

Um menino, um pouco mais velho do que a Alina correu atrás dela e abraçou a senhora, ajudando-a a caminhar. Naquele momento deu-me um aperto no coração e lembrei-me da loucura da minha mãe. Nenhum filho ou mãe merecia passar por aquilo.

O Despertar Das Rosas Negras - Melhores histórias 2022 LPOnde histórias criam vida. Descubra agora