Capítulo 27 - A dor da despedida

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Olhei para o Vítor e esfreguei as minhas mãos umas nas outras. O rei estava no primeiro andar como sempre e olhava para baixo, como se fossemos insetos facilmente esmagáveis. Muitos ainda conseguiam ver o líder benevolente e generoso, mas quem conheceu a sua verdadeira face podia distinguir facilmente o seu olhar frio e calculista, o olhar dos Harryvan.

A Cecília estava agarrada ao marido e não queria deixa-lo ir. As crianças choravam assustadas. Até o Lucas que até há pouco tempo autoproclamava-se homem, agora estava sentado ao chão, com um semblante triste. Se perdêssemos o Horácio naquele momento, eu previa que as coisas iriam piorar e muito.

Abracei o meu noivo, descansando a minha cabeça no seu ombro. Não queria chorar, não queria que a última lembrança que ele teria de mim fosse o meu rosto banhado em lágrimas.

O seu tio estava ao meu lado e olhou para o sobrinho timidamente. Afastei-me um pouco do Vítor e o tio ofereceu-lhe um aperto de mãos. Os dois entreolharam-se e abraçaram um ao outro. Incrível como a vida era tão curta para guardar mágoas.

Fui até ao Lucas e depositei um beijo na sua testa. Estendi as minhas mãos, ajudando-o a levantar-se.

— Precisamos ser fortes Lucas, pela sua mãe e pelas suas irmãs. És um homem, lembras-te? És forte e consegues derrubar tudo a tua volta. — Ele olhou para mim e abraçou-me, tentando não chorar.

— Não consigo. Isto é muito difícil para mim. Eu sei o que significa a partida do pai Maly. Como disseste, já sou um homem e não uma criança. Eu sei, eu sinto que ele não irá mais voltar. — Tapei os seus lábios com as minhas mãos e olhei-o com raiva.

— Não diz isso, nem a brincar. Ele irá voltar sim, vais ver. O teu pai é forte e sempre foi. Ele é um sobrevivente Lucas. — Engoli a minha hipocrisia abraçando-o mais uma vez. — Vamos sair deste pesadelo. Prometo-te! — As minhas promessas morreram na minha garganta.

Bem lá no fundo eu não acreditava nas minhas palavras, mas elas precisavam ser ditas. A minha família precisava manter-se forte.

A Clarinha e a Alina estavam agarradas aos pais, olhando para os lados assustadas. As carruagens começaram a entrar no pátio do palácio e as meninas começaram a gritar descontroladas. No impulso Clarinha fechou os olhos e o palácio começou a tremer. Alguns soldados colocaram-se em posição de ataque, mas o Horácio amparou a filha de imediato, ajoelhando-se a sua frente.

— Tudo bem querida. — Ele mexeu nos pequenos caracóis da menina, fazendo-a sorrir. As pequenas réplicas pararam e o chão voltou ao normal. — O pai irá viajar para um lugar lindo. Um lugar mágico como você. Irei trazer-te um presente. O que queres?

A menina ficou pensativa e depois colocou o dedo indicador na ponta do nariz do pai.

— Eu quero um pouquinho de área de cada lugar que o senhor visitar. Irei transformá-las em uma pedrinha brilhante e guarda-las aqui no meu peito. — O Horácio olhou para a mulher sem palavras e depois para a filha oferecendo-a um aperto de mãos.

— Combinado então. Aqui selaremos o nosso contrato. — A Clarinha achou engraçado o gesto do pai e começou a gargalhar. Juntamo-nos a ela. Um sorriso de nervoso e medo de que aquele "contrato" nunca viesse a ser cumprido. Horácio olhou para a filha mais velha e abraçou-a. — Cuida da tua irmã mais nova. Ela precisa de ti mais do que nunca. — A Alina assentiu, limpando as lágrimas.

— O meu presente pai, é que voltes para nós, por favor. Precisamos de ti. — O Horácio apertou a filha nos braços e o seu corpo estremeceu. Vi o medo trespassando seus olhos.

— Eu voltarei filha, prometo. Iremos reconstruir a nossa casa e viveremos felizes como éramos antes. — A Cecília desviou o olhar e limpou uma lágrima que insistia em desprender dos seus olhos.

O Despertar Das Rosas Negras - Melhores histórias 2022 LPOnde histórias criam vida. Descubra agora