Ajudei a Cecília a levantar-se com dificuldade, fazendo o seu peso ser transferido para o meu corpo. Fiz menção de ir em direção a ala leste, mas ela segurou as minhas mãos impedindo-me de continuar.
— Para a ala real. — Ela sussurrou baixinho chamando as filhas para si. — Já perdi muito hoje, não vou perder mais ninguém. Ficarei com a Clarinha até que o rei permita que ela fique connosco.
Abanei a cabeça em concordância e pedi a Alina que ajudasse-me com a sua mãe. Clarinha entrou no salão de bailes e atravessou-o chamando-me com as mãos.
— Tia, eu durmo num quarto de princesa agora. O padrinho Hermes disse-me que agora eu sou a princesa de Luanovia, mas não acredito muito nele. Ele é esquisito. — Ela começou a subir as escadas e olhei para cima, pensando o que poderia ter ali. — Lá em cima é bonito, luminoso. Só que um pouco frio. — Clarinha disparou olhando-me fixamente.
Um grande tapete musgo cobria os degraus, levando-nos á duas gárgulas no final da escadaria. Subi-as com dificuldade arfando, ajeitando a minha irmã melhor nos meus braços. A Cecília levantou a cabeça um pouco e tentou desvencilhar-se das minhas mãos, mas impedi-a, fazendo-a entender que naquele momento ela era a cuidada e não o contrário.
Chegamos no segundo andar e percorremos o grande corredor que banhava o lugar em um círculo gigante. Senti a minha pele arrepiar e olhei para o lustre pendurado no teto do palácio. Lembrei-me de quando a sra. Agnes disse que as pedras da lua deixavam os ambientes mais frios e pensei se a queda súbita de temperatura se dava a elas.
Olhei para baixo, sentindo vertigens. O grande salão de bailes agora parecia pequeno visto daqui de cima. Clarinha entrou em um outro corredor secundário e segui-a, entrando em uma ala abastecida, quase que indescritível. Cortinados doirados cobriam as janelas e vários vasos de plantas acompanhavam-nos. Várias portas foram aparecendo em fileiras e cada um tinha uma tapeçaria ao lado, retratando os grandes feitos dos antigos reis de Luanovia.
A minha sobrinha parou em frente a uma das portas e empurrou-a, entrando no cômodo. Entrei com a ajuda da Alina. Segurei com mais força a minha irmã quando deparei-me com o luxo do quarto. Um painel em rosas cobria o fundo e uma cama em dorsal descansava no meio, sendo coberto com uma colcha de linho, bordado a ouro branco.
— Aqui é o meu quarto. — Ela falou jogando o seu pequeno corpo nos lençóis.
Coloquei a minha irmã sobre a cama admirando o restante do espaço. Uma penteadeira branca com um grande espelho ao centro impunha-se ao pé da cama. Ainda podia-se ver um grande baú abarrotada de roupas infantis no fundo do quarto. Fiquei pensando em como foi possível o rei ter tido tempo de juntar todas em um período de tempo tão pequeno.
Deitei a minha irmã na cama e cobri-a com um cobertor.
— Eles irão ficar bem. — Sussurrei baixinho para ela cobrindo o seu corpo. — Daqui a pouco estaremos todos juntos mais uma vez.
Ela sorriu para mim e pegou as minhas mãos.
— Obrigada Maly. Eu só preciso de um tempo. — Ela voltou para o lado e pediu que as filhas deitassem com ela. Clarinha aconchegou-se nos braços da mãe e Alina abraçou-a por trás. — Eu ficarei bem, prometo. Agora só quero descansar e sentir o calor das minhas filhas.
Assenti, deixando o quarto, mas não antes sem certificar-me mais uma vez de que elas estavam bem. Bati a porta de leve, respirando fundo. Não poderíamos perder mais ninguém.
Contemplei a tapeçaria perto do cômodo, lembrando-me das inúmeras aulas de história lecionadas pelo meu avô. Ele ilustrava uma frota de barcos nas águas de Luanovia e os descobridores em posses heroicos mostrando o novo lar.
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O Despertar Das Rosas Negras - Melhores histórias 2022 LP
Viễn tưởngQuando corres pela tua vida, em direção ao lugar que julgas ser o mais seguro do mundo. Quando coisas estranhas começam a acontecer e pessoas começam a desaparecer. Quando te vês separado do teu verdadeiro amor e obrigada a seguir uma profissão ou...