Dor! Era o que sentia quando abri os olhos, e encarei os pequenos raios de sol que penetravam para além da cúpula invisível que envolvia o palácio. O piar dos pássaros incomodavam profundamente os meus ouvidos e tapei-os num ato inútil de silencia-las.
Algo duro espetou as minhas costelas e levantei-me devagar ainda atordoada. Olhei ao meu redor e vi...verde. Esse começou a ganhar forma e mais cores. Apercebi-me de que ainda eu estava no jardim de orquídeas sentada no mesmo banco que na noite anterior.
As cenas reacenderam-se na minha mente e lembrei-me da discussão, da conversa no jardim. Deuses! A besta negra! Saltei em um pulo e apalpei as minhas costelas, o meu antebraço e as minhas vestes. Eles estavam intatos! Corri para onde a besta havia cavado o buraco, mas esse era inexistente. Algumas orquídeas abriam as primeiras pétalas dando-me bom dia e apercebi-me de que o solo nem se quer fora revolvido ou pisoteado.
Esfreguei as mãos no meu rosto e sentei-me no chão atordoada. Não acredito que foi apenas um sonho! A minha vontade era de gritar e pisotear as flores, como se essas fossem culpadas da minha frustração. Não sabia quando é que aqueles sonhos horríveis iriam terminar. Ainda sentia o meu antebraço latejar e as minhas costelas pinicarem, como se tivessem sidos amassadas e depois colocadas outra vez no lugar. O sonho parecia tão real!
Encarei o banco esverdeado e comprido em que passei a noite com uma careta. Como ninguém apercebeu-se da minha ausência? Cerrei os olhos em meia lua e apercebi-me de que um objeto marrom estava caído ao meu lado, meio escondido pela relva alta. Levantei e aproximei-me dele, mas o meu corpo obrigou-me a dar dois passos para trás. Ali estava a mesma caixa quadrada dos meus sonhos com as letras AVA gravadas em uma das suas extremidades!
Ponderei em pega-la. Aproximei-me outra vez devagar, passando as minhas mãos pela sua tampa com medo dela desfazer-se ou dar vida a besta negra e esta vier atrás de mim, dilacerando-me. Só que desta vez de verdade!
Esperei um minuto e nada disso aconteceu. Tomei-a em minhas mãos e sentei-me outra vez no banco do jardim. Esta já estava tornando-se numa velha amiga.
Abri a tampa e esperei que algo macabro saísse dali. Talvez um ninho de aranhas ou mãos retorcidas querendo pegar-me. Ri dos meus pensamentos e coloquei a tampa de lado. Ali dentro encontrei um livro velho, já amarelado e do seu lado um encaixe redondo vazio. Passei as minhas mãos por ele imaginando o que poderia encaixar ali.
Peguei o livro e passei-a de uma mão para outra admirando a capa. Esta era formada por várias ramificações de uma arvore e terminavam com uma pedra verde no centro.
Abri-a! Na primeira folha estava escrito à mão uma dedicatória em letras miúdas:
"A minha amada e que as nossas vidas sejam cheias de verde, como uma tarde de primavera. Hermes"
Parei de ler e olhei ao meu redor com medo de que estivesse fazendo algo de errado, invadindo uma privacidade que não era a minha. A curiosidade venceu e folhei o livro. Algumas datas iam amontoando conforme as páginas deslizavam e percebi que aquele não era um livro e sim o diário pessoal da rainha Ava.
Senti passos aproximando-se e coloquei o diário na caixa, escondendo-a nas minhas vestes. Um guarda encarou-me por alguns segundos e depois continuou o seu caminho dando de ombros com um sorrisinho nos lábios. Com certeza pensado que eu era apenas uma bêbada no jardim em consequência do banquete da noite anterior. Revirei os olhos e fui em direção aos dormitórios.
Abri a porta do quarto devagar. A minha irmã já estava de pé arrumando a bagunça da noite anterior. Empilhava as caixas umas em cima das outras e analisava os acessórios. Olhou-me dos pés à cabeça de soslaio e semicerrou os olhos.
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O Despertar Das Rosas Negras - Melhores histórias 2022 LP
FantasyQuando corres pela tua vida, em direção ao lugar que julgas ser o mais seguro do mundo. Quando coisas estranhas começam a acontecer e pessoas começam a desaparecer. Quando te vês separado do teu verdadeiro amor e obrigada a seguir uma profissão ou...