— Não entendi bem querida. O que é que disseste? — A senhora Agnes olhou para mim confusa. Eu não a estranhava, pois até eu estava confusa. O que uma antiga rainha morta iria querer de mim ao longo desses anos?
O olhar da menina do retrato era meigo e o seu sorriso genuíno, diferente das risadas malvadas que preenchiam os meus sonhos.
— Nunca tinha visto um retrato da antiga esposa do rei. Fiquei impressionada. — Um sorriso amarelo rasgou os meus lábios e agradeci pelo facto da senhora não ter percebido muito bem o que eu havia dito. — Ela é muito linda.
— O retrato não faz jus a sua beleza. Quando andava por estes corredores, era como se feixes de luzes irradiassem ao seu redor. — A senhora Agnes voltou a perder-se pelas suas lembranças e um ar nostálgico preencheu as suas feições. — Até hoje ninguém soube o que levou a sua morte.
Ficamos um pouco em silêncio, como se estivéssemos prestando algum tipo de homenagem a rainha. Compadeci da tristeza da senhora Agnes e abracei-a tentando consola-la.
De repente o salão ficou silencioso e olhei para trás. Todos estavam curvados em uma reverência a presença do rei e sem demoras eu e a senhora Agnes fizemos o mesmo. Um arrepio percorreu o meu corpo e tentei ignora-la. Ele fazia-se acompanhar por um homem alto com um sorriso presunçoso estampado no rosto e pela sua guarda pessoal.
O rei fez um aceno aos presentes e sentou-se em uma das mesas, acompanhado pelo homem. Os demais convidados seguiram o exemplo e ocuparam os lugares vagos ao longo das mesas que estavam expostas num grande "U". A senhora Agnes em um gesto discreto pediu para que os servos servissem vinho.
— Um brinde a Luanovia. — O rei ergueu a sua taça com um sorriso no rosto, fitando cada um dos que estavam presentes ao seu redor.
— A Luanovia. —Repetimos em uníssono erguendo também as nossas taças.
— Principalmente a Francinatis e a Dóminus. Perdemos grandes aliados, familiares e amigos, mas honraremos as suas memórias. — O rei fez um gesto com as mãos e o jantar foi servido. — Muitos aqui já conhecem o meu braço direito, o duque Nick Harryvan. — O duque fez um pequeno aceno com a cabeça. Ele e o rei compartilhavam várias caraterísticas, sendo o mais visível o cabelo negro escorrido. Ambos tinham o rosto angular, mas as írises do duque eram da cor de âmbar. — Ele está investigando os incêndios e assim que tivermos certeza das nossas suspeitas, todos serão avisados.
— Se me permite perguntar Majestade, de que tipo de suspeitas falais? — Perguntei e todos os olhares do salão voltaram-se para mim assustados, como se fosse um crime dirigir-se ao rei.
— Ainda não podemos confirma-las minha querida. Guerras já foram travadas no passado e não podemos agir de forma precipitada, correndo o risco de iniciar outra sem termos motivos que se justifiquem. — Fiquei quieta e coloquei um pedaço de carne na boca.
A última guerra em que a Luanovia estivera envolvida fora com os Francos e isso deu-se há mais de trinta anos atrás. Não entendia a ligação de uma coisa com a outra visto que foram expulsos destas terras há muito tempo atrás levando consigo a vida do antigo rei, o pai de Hermes Harryvan.
— Mas vamos falar de coisas alegres. — O rei levou uma porção de legumes a boca e em seguida limpou a boca na toalha de mesa. — Alguns feudos aceitaram receber alguns de vocês em suas casas. Ofereceram empregos e moradia temporária até que consigam estabelecerem-se sozinhos.
Murmúrios encheram o salão e várias pessoas tentavam disfarçar os seus sorrisos de satisfação. Tudo o que desejávamos era uma oportunidade de um novo recomeço e por isso eu entendia a empolgação das pessoas ao meu redor.
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O Despertar Das Rosas Negras - Melhores histórias 2022 LP
FantasyQuando corres pela tua vida, em direção ao lugar que julgas ser o mais seguro do mundo. Quando coisas estranhas começam a acontecer e pessoas começam a desaparecer. Quando te vês separado do teu verdadeiro amor e obrigada a seguir uma profissão ou...