Capítulo 19 - O cheiro da morte

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5 anos atrás

Dedos gélidos arranharam a minha pele e a minha garganta secou, sufocando um grito de desespero. O meu corpo não mexia-se e os meus olhos enxergavam vultos desfigurados cada vez mais próximos da minha carne, prontas para abocanhá-lo. Eu sabia o que era aquilo! Paralisia do sono. O meu avô já tinha-me explicado isso várias vezes, mas a minha mãe sempre teve uma opinião contrária.

Ela sempre acabava por entrar em surto, falando que eles estavam pertos para reivindicarem o que eram delas. Aquilo assustava-me mais do que os meus sonhos.

A cada aparição, eu sentia um pedaço de mim indo embora. Já não era uma criança há muito tempo. Via coisas que nenhuma criança deveria ser capaz de ver, criaturas que nunca deveriam existir. Criaturas sedentas por sangue e destruição, apaixonadas pelo cheiro apodrido da morte.

Uma criatura cadavérica arrastou-se sobre o meu corpo até que o seu bafo atingisse as minhas feições. Tentei mexer, gritar, mas nada saía. Ela abriu totalmente a boca com dentes afiados e aproximou-se aos poucos do meu pescoço pronto para dilacerá-lo.

Acordei em um grito renhido, esfregando o meu pescoço. Olhei a minha volta procurando por garras na escuridão, mas apenas os olhos assustados da minha irmã encaravam-me.

Levantei-me e abracei-a com um sentimento de culpa. Ela não deveria fazer parte disto e nem ouvir os meus gritos pela madrugada. Era apenas uma criança e iria proteger a sua inocência a todo o custo.

O meu pai entrou no quarto com um candeeiro nas mãos acompanhado pela minha mãe trémula ao seu lado. Ela sabia o que os gritos significavam. Os seus olhos varreram o quarto como se procurasse alguma coisa e depois sentou-se ao meu lado esfregando as minhas mãos nas suas.

— Isto precisa acabar! Isto precisa acabar! Isto precisa acabar! Eu preciso acabar com isto! — A minha mãe repetia as palavras em transe, como se tivesse congelado no tempo, presa em algo que não deixava-a escapar.

O meu pai olhou para a mulher com desgosto e sentou-se do outro lado da cama perto da Sara, aconchegando-nos em um abraço caloroso.

— Foi só um pesadelo meninas. Tudo vai passar. — Ele pegou a Sara no colo ajeitando a sua cabeleireira negra. — A tua irmã só teve um pesadelo meu bem. Isso é normal e acontece a todos.

Olhei para o meu progenitor e um sentimento de culpa invadiu o meu peito. Não queria que a minha mãe ficasse mais insana, ou que a Sara ficasse assustada. Apertei o seu corpo no meu e escondi o rosto dos seus olhos castanhos cintilantes, com medo de ver o mesmo olhar que ele dirigia a minha mãe.

La fora o dia começava a clarear e a brisa gélida matinal entrava no quarto fazendo a minha pele arrepiar. Naquele momento a minha mãe olhava para o meu pai com ódio. Eu sabia que aquilo renderia mais uma discussão entre eles e arrependi-me mais uma vez por ter gritado.

— Tu sabes muito bem que não foi apenas um pesadelo Dijon. — Ela levantou-se do meu lado e percorreu o recinto do quarto com passos apressados fazendo os seus cabelos brancos mal cuidados eriçarem. — Eles estão vindo e você sabe. Eu sinto o cheiro deles escondidos nas sombras. Eles irão pegar você! — Ela apontou para mim arregalando os seus olhos cor da tempestade e encolhi agarrando aos braços do meu pai.

Dijon irritado colocou a Sara sobre a cama e colocou-se entre mim e a mãe.

—Cala a boca Omara! Já estou farto dos teus surtos e estás assustando as crianças. — Meu pai passou as mãos pelos seus cabelos acobreados cansado e sentou-se em minha cama do outro lado do quarto. A minha mãe encolheu-se num canto com os olhos arregalados olhando fixamente para a penumbra.

O Despertar Das Rosas Negras - Melhores histórias 2022 LPOnde histórias criam vida. Descubra agora