Capítulo 32 - Passagens secretas

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Saí do quarto às pressas e percorri o corredor, adentrando na cozinha. Avistei a senhora Agnes mexendo algo num tacho e agarrei num cesto de batatas, colocando-me ao seu lado.

Peguei em uma batata e comecei a descascá-la como se eu não quisesse nada. Ela olhou-me por alguns instantes, semicerrando os olhos.

— O que queres menina? — A sua voz aguda fez-me saltar e a batata acabou caindo das minhas mãos, rolando pelo chão da cozinha. Pausei a faca e olhei-a com um sorriso amarelo.

— Só estava procurando o David. A senhora sabe onde ele pode estar? — A senhora parou de mexer o tacho e cruzou os braços encarando-me de frente.

— Não sabia que tinhas interesse no meu neto. Pensei que fosse a tua sobrinha. — Olhei para a senhora indignada e ela deu de ombros retomando o seu trabalho. — És um pouco velha para ele, não? É melhor procurar alguém da tua idade. — Dei uma risadinha desconfortante fazendo um gesto de mãos.

— A senhora interpretou-me de forma errada. Só queria encontrá-lo e pedi-lo que fizesse companhia a Alina. Ela está tão triste pela partida do pai e do irmão que alguma distração caía-lhe bem. — Ela olhou-me mais uma vez, limpando as mãos num pano.

— Estou um pouco ocupada aqui querida, não preciso de distrações, mas se queres encontrar o meu neto é só ires até aos estábulos do palácio. Ele gosta muito de animais. — Assenti e fiz uma vênia a senhora como forma de agradecimento.

Ela abanou a cabeça em negativo, jogando o pano para o lado e foi supervisionar os outros trabalhadores. Saí da cozinha em passos largos, atravessando o pequeno jardim.

Parei por uns instantes, lembrando que eu não sabia aonde ficava o raio dos estábulos. Parei um soldado e ele olhou-me curioso. Limpei a voz, olhando-o envergonhada.

— Eh...será que podes mostrar-me onde são os estábulos? — Ele mediu-me com os olhos e depois apontou para a ala leste. Olhei para o caminho desanimada. Eu tinha saído dali há pouco tempo.

— É só dar a volta nos dormitórios dos servos e ir para as traseiras. — O soldado fez o descanso e depois continuou a sua ronda.

Passei pelos dormitórios entrando numa parte desconhecida. A vegetação era um pouco mais escassa e o ar impregnado de um ligeiro cheiro de dejetos de animais. Contornei um amontoado de palhas, avistando os estábulos ao fundo. A sua estrutura era feita de madeira maciça, comportando no seu interior um grande número de cavalos. Entrei pela porta principal e dei duas batidinhas, chamando a atenção de alguém que pudesse estar ali.

O David aproximou de mim em passos lentos e acenou-me, convidando-me a entrar. Coloquei os pés no chão batido apreciando o lugar. Duas fileiras com vários compartimentos tomavam cada lado, deixando um grande corredor no meio. Alguns cavalos relinchavam e outros apenas observavam com curiosidade em seu redor.

— Tu por aqui? — Ele cruzou os braços e olhou para o lado, deixando os seus olhos azuis ainda mais claros. Eles lembravam-me alguém, mas só que os do menino eram muito mais calorosos.

Dei um passo à sua frente e fitei-o por alguns momentos. Ele aproximou-se de uma égua próxima a entrada e começou a acariciar a sua pele, distraído. Aproximei-me também do animal de pelagem negra e copiei os gestos do menino.

— A sua avó disse-me que gostas muito de animais. — Ele abanou a cabeça, mexendo um pouco os seus pequenos cachos loiros. Pegou em uma escova numa estante de madeira logo a entrada, apertando-a nas mãos. Dei duas batidinhas no animal e rondei o estábulo, verificando se mais alguém estava por perto. — Também ouvi falar que gostas muito de passagens secretas. — Ele encarou-me desconfiado, fazendo-me engolir as minhas palavras. Merda, eu fui rápida de mais!

O Despertar Das Rosas Negras - Melhores histórias 2022 LPOnde histórias criam vida. Descubra agora