Capítulo 5 - Ela não vai ser morta

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   Dezesseis semanas, seis dias, nove horas, quarenta e seis minutos e vinte e quatro segundos desde que ele não conversa com ela.

   Não que ele estivesse contando, claro.

   Mas ficar longe dela vem o consumindo e o deteriorando aos poucos, como se uma parte de sua identidade tivesse sido brutalmente arrancada, uma parte de quem ele é.

   Ele não sabe por quanto tempo mais aguenta. Pode parecer um idiota apaixonado, louco para finalmente trocar uma única frase com a pessoa que conquistou seu coração e enxergou sua alma de tal maneira que ninguém nunca fizera antes, mas a distância tem se tornado sufocante e insuportável.

   Mas quando ele lê a ameaça feita à S/N, ele simplesmente cospe completamente quinta xícara de café - são nove da manhã; ele fez o favor de não dormir pela décima terceira vez somente neste mês -, quase estragando seu computador.

   Os olhos do hacker fugitivo permanecem concentrados na tela do computador enquanto a mesma exibe o áudio de S/N discutindo com seu irmão e Darkness, completamente vidrado com a decisão que ela poderia tomar.

   E ela tomou uma decisão.

   A decisão errada.

   A maldita decisão que a faria colocar sua vida, sua possível carreira, sua família, sua casa e seu futuro em risco.

   Seu rosto se contorse e uma sensação familiar passa pelo seu peito, o deixando sem ar.

   Aquela noite, quando Richy pediu para que S/N fosse se encontrar com ele na mina. Quando ela decidiu de uma vez por todas que iria e nada parecia a fazer mudar de ideia. Aquela dor no peito, a forma como aquilo o deixou branco feito papel.

   Aquilo era preocupação.

   Mas, desta vez, é diferente.

   É mais forte. Mais vívido. Mais real. Um de seus maiores medos se consolidou: ameaçaram a única pessoa que tinha restado. A única com quem ele se importava no mundo inteiro e estão mais do que dispostos à mata-la para conseguir o que queriam.

   Ele fecha os olhos e uma vaga lembrança passa pela sua mente.

   O dia de Ironsplinter.


Quatro meses antes

   O fogo e a fumaça se alastram; parece que o ar desenvolveu mãos somente para apertar o pescoço de Jake e não solta-lo até que o mesmo asfixie.

   Ele tosse, tentando conter as lágrimas de seus olhos devido à quentura da mina. Seu computador e o carregador portátil já estão dentro de sua mochila preta e seu capuz já está acobertando seus olhos; mesmo assim, ele não possui forças para sair.

   A brasa toma conta de seus pulmões, forçando Jake a se sentar em uma pedra para não cair. Ele fecha os olhos, se entregando por uma fração de segundo.

   É inútil lutar. O FBI está lá fora. Se ele sair, será preso e possivelmente condenado a uma vida inteira atrás das grades por seus crimes. E se não sair, morrerá pela falta de ar.

   Vale mesmo a pena continuar com tudo isto?

   Vale a pena continuar com a fuga que não parece ter fim?

   O que mais ele ganha com tudo isto?

   Uma imagem vem à sua mente. Uma menina de cabelos castanhos e olhos canela penetrantes, o sorriso travesso de lábios rosados e pequenos tomando conta de seu rosto. O sorriso que ele vira em uma das fotos de S/N nas redes sociais.

   Aquele sorriso.

   Ele quase nunca a via sorrindo quando consultava a câmera de seu celular; sempre com uma cara depressiva, cansada, exausta de buscar pela Hannah às cegas. Mas quando ela sorriu pela primeira vez, parecia que o mundo de Jake havia se iluminado.

   Aquele sorrisinho que ela soltava com os flertes e mensagens que os dois enviavam.

   Ele precisa voltar para aquele sorriso.

   Rapidamente puxa o mapa de sua mochila, se forçando a manter-se consciente. Um caminho longo, perigoso, porém longe o suficiente para despistar o FBI se ele se apressasse.

   Ele segue caminho e a única coisa que o guia são os olhos doceis da pessoa que considera seu amor.

   É loucura.

   É a pior ideia que já teve.

   É jogar seu trabalho fora.

   Mas ele não se importa.

   Pega o seu telefone programado com o número de Ny-m0s e disca.

   A garota que carrega linhagem Hanson atende do outro lado da linha.

— Alô?

Só mais um minuto - DuskwoodOnde histórias criam vida. Descubra agora