Só mais um minuto - Duskwood

Capítulo 28 - Eu vou cobrar.

   Indubitavelmente, a morte é fria. E, se ela tivesse um sabor, S/N diria que é algo semelhante à sangue metálico mesclado com a sensação doce de água após uma longa corrida. Sabe disto porque foi a forma como seu paladar interpretou a sua morte.

   Portanto, você deve conseguir imaginar o assombro que teve quando seus pulmões voltaram a exalar oxigênio.

— Ouvi os galhos se quebrando nessa direção! — A garota ouve um homem trovejar para seus capangas. — Ela tem que estar aqui. ACHEM ELA!

   Precisa obrigar suas pernas se moverem. Sabe que precisa. Mas duvida que chegue à qualquer lugar com o maldito tornozelo fraturado. Entretanto, caso se sujeite a ser sequer tocada por algum daqueles homens, eles teriam o homem hacker em suas mãos. Pior ainda: se um dos homens do seu pai sequer sonharem com sua localização, a situação sairia completamente de seu controle, e Jake, seus amigos e sua família seriam submetidos a um perigo maior do que as torturas do FBI. E ela jamais permitiria algo assim.

   Nem por cima do seu próprio cadáver.

   Encara o ferimento de bala em seu abdômen, a fratura no tornozelo e o corpo ralado, sentindo a dor de um novo deslocamento do ombro quase lhe arrancar um grito agudo.

   É. Quase literalmente, um cadáver.

— ALI! — Uma voz vocifera ao longe. Os arbustos próximos à S/N farfalharam com o levantar de vôo dos pássaros que a cercavam; devem ter levado um susto com os barulhos de passos cada vez mais audíveis e estrepitosos.

   O plano, embora lunático, era até mesmo inteligível: pedira a todos os amigos que viessem de preto apostando que o FBI ou os homens do Michael já haviam detectado sua localização. Roubou as chaves da van de palhaços roubada do irmão, da Hyundai HB20 e do Fiat Argo dos amigos, garantindo que, caso fossem bem sucedidos em arrombar a porta, fossem incapazes de alcançá-la. Desligou o Wi-fi pelo fio fora do apartamento no terraço antes de descer, fazendo todo o prédio perder o acesso à internet até um eletricista ser chamado. Pegou o dinheiro de emergência de Miles e o seu próprio para subornar o recepcionista, garantindo que o mesmo não compartilhasse nenhuma informação. Encontrou os jovens ainda no estacionamento, o que realmente foi um golpe de sorte. Adolescentes não costumam pensar quando há dinheiro em jogo. Ofereceu uma boa quantia; muitos se demonstraram indispostos por possuírem fichas criminais e por temer serem expostos. Prometeu fazer cada ficha desaparecer, o que enfim os fez ceder às suas loucuras. Falou para sete deles colocarem os moletons e calças que trouxera (todas pretas, para imitar Jake, Dan, Lilly, Cleo, Hannah, Thomas e Jessy quando chegaram no hotel), entrassem dentro do Hyundai HB20 e aguardassem pelo sinal. Após afirmar sua intenção de pegar a estrada em direção à floresta, instruiu o restante a atrapalhar o caminho dos carros do FBI indiretamente. Derrubar lixeiras, bloquear ruas, trocar placas de direção. Como iriam fazer não era significativo, o que realmente era relevante era que não fossem testemunhados ou descobertos. Deu a volta por trás do hotel para evitar câmeras, estacionou a van tingida por imagens de palhaços sinistros em um beco escuro, direcionou as lixeiras para esconder sua extensão e amontoou sacos de lixo para disfarçá-la. Voltou caminhando (sempre escondendo o rosto), pagou o atendente do estacionamento do hotel e o subornou com algumas centenas de dólores para que o mesmo alterasse em seu banco de dados a data em que a van se foi, apresentando uma diferença de quatro horas, e deu mais uma porção de células para que ele afirmasse o mesmo para os homens de preto que iriam interrogá-lo mais tarde.

   Como tudo deu tão errado?

   Se arrastando entre o capim amassado pelo carro e os pedaços de tronco que caíram da árvore quando ela chocou seu veículo contra aquela pobre pau, ela reza aos céus e a todas as divindades das quais se recorda para que todos, especialmente ela mesma, fiquem seguros.