Capítulo 26 - "Corno manso" é uma ótima escolha de palavras.

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   S/N se levanta do sofá, as passadas sendo dadas tão pressurosamente que ela parece levitar pelo cômodo. Todos vão atrás dela, ela consegue sentir seus olhares incendiando suas costas.

— O que você quis dizer quando falou tudo aquilo pro Daniel, S/N? — Ela escuta a voz de Darkness, no entanto, ela parece estar baixa em comparação às engrenagens que giram em sua cabeça, ávidas para bolar uma estratégia de como fazer para que todos ali ainda estejam vivos quando ela deixar o apartamento sozinha.

   Quando acha que está próxima o suficiente da mesa e contígua o bastante de Thomas, ela se vira e bate contra o ombro do homem propositalmente, o que a faz cair para trás. Para completar o teatro, ela finge tentar se equilibrar na mesa. Sua palma roça levemente a superfície do móvel e ela desliza os dedos em direção a superfície irregular e gélida da chave do carro dos amigos, puxando-a consigo quando praticamente se joga no chão, fingindo que caiu.

— Olhe por onde anda, corno manso. — Ela resmoneia, garantindo que sua voz se sobreponha ao barulho mecânico das chaves quando se levanta do chão.

   Uma já foi. Agora falta a outra.

   Em uma revista rápida, ela olha para as roupas de seus colegas. Havia pedido para que todos os seus amigos fossem com moletons pretos para aquele jantar (sem dar explicações, lucidamente) com um só objetivo: caso alguém os siga, eles conseguiriam se misturar. Se tivessem que se separar, ninguém jamais conseguiria distinguir uma pessoa da outra. Ou seja: se pegassem algum deles, a chance de terem pegado seu namorado diminuía.

   Por sorte, ela já esperava por isto. Por sorte, sempre esteve um passo a frente. Por sorte, ela era excepcional em mentir e sempre fez isto para sobreviver. E ela reza aos céus para que o pouco que sobrou desta sorte a acompanhe esta noite.

   Porque, caso não acompanhasse, o sangue de alguém estaria em seus mãos até o fim da alvorada.

   Ela consegue ouvir o som de uma discussões se formando, mas não é capaz de distinguir quais palavras estão sendo entoadas. "Corno manso" foi um ótimo jogo de palavras. Sempre pareciam deixar Thomas inseguro e fazê-lo gerar uma briga. Discussão essa que desviaria atenção de S/N para Thomas, algo que cria o momento perfeito para que a menina saia da coxia e enfim comece seu espetáculo pretensioso. Não gostava de diminuí-lo assim, mas depois de ele ter implorado para que assumisse o lugar da Hannah na mina, não pode discordar que ele merece. E tem algo mais. Algo sobre o que fazer, procurar outro lugar para se esconder, o porquê da ligação, se conseguiram os rastrear, sobre o hacker ter ferrado com tudo — esta ela tinha completa certeza de ter vindo de Dan.

   Mas ela simplesmente não consegue acompanhar; tudo parece estar lento demais, silencioso demais e perigoso demais quando ela caminha para o quarto e se retira do meio do bate-boca, indo em direção à mala e retirando todos os moletons pretos que tinha. Agradeceu internamente por seu guarda-roupa ser baseado em preto desde a morte de sua irmã e tirou seis peças de roupa apressadamente, amarrotando todas em uma mochila que estava jogando entre seus pertences e depositando os trezentos dólares em forma de notas de cinquenta — que estavam na sua gaveta de emergência — em cima junto com a chave do carro dos amigos. Ela volta para a sala silenciosamente e contorna a discussão, deixando o objeto próximo a porta.

— Então, o que querem fazer? — Indaga ela ao se colocar no meio do grupo.

— O que nós queremos fazer? S/N, você acabou de afrontar o FBI todo com um monólogo só! — Lily exclama, abismada.

— E fez isto lindamente, para ser franco. — Darkness direciona um sorriso malicioso para ela; ele sim sabe que ela está aprontando. Entretanto, não tem como ter ciência do que está planejando. E se a garota tiver o tempo de reação certo, não terá como impedir também.

Só mais um minuto - DuskwoodOnde histórias criam vida. Descubra agora