Capítulo 8 - Miles entra em ação

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   Ele vira o copo em sua boca, sorvendo o líquido vagarosamente. Sente vontade de vomitar quando sente o sabor azedo em sua boca, entretanto precisa beber o uísque.

   Ele não vai conseguir fazer isto se estiver sóbrio.

   Jogar os seus quase cinco anos de fuga fora para proteger uma garota. Quem diria, não é mesmo? Se tivessem o parado na rua há dois anos atrás e comentassem isto com ele, Jake apenas riria e diria para que as pessoas que ousaram proferir estas palavras procurassem ajuda psiquiátrica.

   Mas ali está ele, prestes a digitar a mensagem que definirá o restante da sua vida.

   E como se entregar? Deveria começar com um: "Olá, FBI. Muito boa tarde. Sou Jake Cooper Donfort, sabe?  Aquele Jake Cooper Donfort que permitiu que os dados sobre o trágico humano de vocês em China, Irã, Líbia, Rússia, Sudão e Cuba vazassem e informei exatamente o que aconteceria, quando aconteceria, quem eram as pessoas envolvidas e entreguei tudo para estes governos internacionais, que por sua vez entraram em ação, afugentaram mais de quinhentos dos seus comandantes de tráfico, recuperaram os cidadãos capturados, entraram em uma troca de tiros que resultou em mais de mil soldados de vocês mortos e entregou dicas o suficiente para que eles entrassem em processo e até quase guerra com o governo do nosso país mais ou menos cinco anos atrás, lembra? Sim. Este Jake Cooper Donfort. Vocês me pegaram, acredita?"

   O hacker ri com escárnio, vislumbrando a tela de mensagens em seu computador, sem nem ter ideia de como iniciar o diálogo.

   É claro que ele jamais liberaria sua localização sem antes ter a chance de garantir que sua garota fascinante estivesse segura. Mas somente o fato de ele ter colocado seu número - irrastreável, lucidamente - à mostra para o FBI não é o suficiente para atrair a atenção deles?

   O álcool inicia seu efeito nas veias do rapaz, o que o faz fechar os olhos e se deleitar pelo pequeno delírio. Sabe que perdeu a cabeça.

   Mas quer saber? Quem se importa?

   "Olá."

   "Olá, Jake Cooper Donfort."

   Jake mira a mensagem dos futuros "benfeitores" que irão jogá-lo em uma cela suja feito um rato de esgoto. Sua mente viaja até uma memória distante.


Há quase cinco anos atrás

   As luzes azuis e vermelhas se refletem na janela e as sirenes ressoam ao longe enquanto Jake se joga no chão da cozinha de sua casa e agarra o pulso ensanguentado de sua mãe.

— O que eles fizeram com você? — Ele inquire em puro desespero, acariciando os cabelos negros de sua mãe.

   Ele olha para sua vestimenta que um dia exalava alegria. O vestido florido e as mechas umbrosas de seu cabelo respingam puro sangue, os olhos azuis reluzindo de pavor. O corpo largado da mulher está no chão, completamente abatido e roxo. Seus lábios sangram e sua testa está marcada por um corte colossal; um corte feito por uma faca muito, muito afiada.

— Nada com o quê se preocupar, meu amor. — Com dificuldade, a mulher passa os dedos na maçã do rosto corada do garoto, a mão tinindo de medo. — Meu meninho... — O rapaz fecha os olhos com dor, aproveitando o toque da pessoa que um dia sacrificou tudo para tê-lo. — Eu te amo tanto, meu hackerzinho querido.

— Não fala isso, mãe! Não fala! — Os ruídos da porta estão cada vez maiores. Quem quer que esteja tentando invadir, está próximo de quebrar o trinco.

— Você precisa sair daqui, Jacob. Rápido. — Ela afirma, agarrando as mãos de seu menino.

— EU NÃO VOU TE DEIXAR AQUI! — Ele vocifera, sentindo o peito se esvaziando. — Eles... eles mataram os meus amigos também, mãe... mamãe... você é a única que sobrou. Me desculpa, desculpa por tudo!

Só mais um minuto - DuskwoodOnde histórias criam vida. Descubra agora