Capítulo 15 - Indo em direção ao perigo

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   O salto alto tipo agulha roça o "parapeito" - de pés - do prédio. O facão está em sua mão esquerda, cravado nos tijolos ao lado da cabeça, apenas por garantia caso escorregue. O pescoço está encostado no cimento enxuto e arcaico do prédio enquanto S/N tenta não se intimidar pela altura.

   Pular direto para o chão a enviaria para a morte na certa; mas agora, com os pés na minúscula massa de cimento que deve estar ali há no mínimo 10 anos também não parece ser uma ideia promissora.

   Ela retira a arma do tijolo fragilizado e anda mais dois passos, fincando novamente na parede. É só uma garantia.

   Ela escuta um barulho alto de tiro; antes que possa captar qualquer outra coisa, o vento cortante passa pela mecha mais curta de seu cabelo, bem ao lado de seu nariz, separando a ponta do cabelo em dois.

   Ela vira sua cabeça e vê seu estuprador a poucos centímetros de distância.

   E é claro que Henry está com sua aparência desgraçadamente elegante.

   A maldita corrente dourada em seu pescoço brilha a luz do luar, realçando os cabelos louros e perfeitamente penteados feito ouro. O terno umbroso é ressaltado pela gravata borboleta, as calças jeans negras afiveladas por um cinto de diamantes legítimos e exageradamente caros.

   Antes que possa sequer virar a cabeça, ela pula direto para a caçamba de lixo, sendo recebida carinhosamente pelos restos de comida, partes perdidas de sapato e copos de plástico. Usando os sacos de resíduo como defesa ao restante dos tiros, ela fecha os olhos com força, esperando que o pesadelo acabe.

   E acaba. Por poucos segundos, acaba.

   Ela ouve o som de armas, sinal de que as balas estão sendo recarregadas.

   É a única chance que possui.

   Ela agarra sua bolsa imunda e cheia de pestilência devido ao mal cheiro da caçamba e emerge das profundezas do entulho com a bolsa em seu ombro.

   Em um salto desengonçado ela sai do contêiner e seu corpo encontra o chão. Sente as costelas reclamarem, mas simplesmente se levanta e se põe a correr em direção a floresta ao mesmo tempo em que o estampido dos disparos retorna a soar pela noite.

— VAGABUNDA! — A voz de Henry ressoa ao longe, mas ela apenas continua.

   Mais um estrépito de bala.

   Ela sente algo passando pela lateral de seu corpo e instantâneamente vai ao chão quando a queimação domina seu flanco direito.

   S/N se arrasta para a floresta na tentativa de se proteger do restante dos tiros, mas sabe que em poucos minutos eles estarão ali.

   Se encostando em uma árvore, a menina pousa sua palma cuidadosamente sobre o ferimento em busca de conter a dor, mas quando a retira, a mão está coberta por uma substância gosmenta e vermelho-vivo.

   Droga.

   A combustão aparenta se apoderar de seu abdômen todo, porém, ela sabe que não pode parar agora.

   Ela se ergue e tatea a pura escuridão causada pela sombra das árvores da floresta, mancando pelo ferimento na perna e ofegante pelo machucado de bala ao lado do umbigo.

   Em treze minutos, enquanto ela aperta seu passo, a trilha se transmuta em algo familiar. Algo que a menina suspeita que já viu em algum lugar. Algo... algo...

   A figura de uma casa toma forma na sua frente. Ela suspira aliviada quando o silêncio permanece sobre o ambiente.

   Certo, conseguira despistá-los.

Só mais um minuto - DuskwoodOnde histórias criam vida. Descubra agora