Capítulo 23 - Era uma vez a porra da minha vida

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— Tá, tá, tá, começa tudo de novo — Solicita Dan, o cenho se torcendo a cada palavra.

— Que parte você não entendeu? — Indaga S/N, passando as mãos pelos cabelos e sentindo o suor umedecer a carne abaixo de suas unhas. — Eu já contei tudo o que tinha pra falar.

— Eu ainda tô processando que você é irmã da Jennifer. Pode partir a explicação daí? — Sugestiona Thomas, tão perdido quanto todos dali. — É muita coisa pra digerir.

— Tá. Era uma vez a porcaria de uma adolescente que se apaixonou por um idiota na faculdade, e assim meus pais ficaram juntos. — Ela fala com rispidez, a dor de cabeça aumentando a cada memória que ela tem que destravar. Odeia falar sobre sua infância. — A Jennifer nasceu em Canyon City antes de eu ou o meu irmão Miles sequer existirmos. A Íris e o Michael se mudaram da cidade à pedido do advogado da família, já que o Michael estava praticamente se afogando em processos. A maior parte vindos da prefeitura, algumas ameaças de despejo por não pagar nenhuma conta aqui e ali e processos por conta das explosões de raiva constantes. A Jennifer já tinha 13 anos na época, mas não morava com os pais.

— Pera, por quê?! — A voz do Miller eleva-se, os olhos se serrando para a Hanson. — Onde a Jennifer morava?

— Minha tia, irmã da Íris, testemunhou contra o meu pai com a justificativa de violência contra um menor de idade usando seu advogado. Michael não foi preso, mas ele perdeu a guarda dela e minha irmã foi morar com o nossos tios em Corvallis. Meu tio, o cunhado da Íris, era o chefe de polícia de lá na época.

— Você tinha um tio que era chefe de polícia e ainda assim o Michael não foi preso? — Indaga Thomas, arqueando a sobrancelha.

— Nem me fale. — Os olhos castanho turmalina de S/N se reviraram de repúdio. — O meu tio tentava ajudar a Íris o tempo inteiro, insistindo pra que ela o denunciasse. Toda a vez que minha mãe ia lá na casa da irmã dela e contava algum episódio de agressão, meus tios guardavam o relato, iam para a delegacia de Duskwood depois da visita da minha mãe e preenchiam o boletim de ocorrência. Toda a vez. Mas, cada vez que a polícia batia na porta da nossa casa, a Íris alegava que todas aquelas acusações eram falsas. "Desmentia" absolutamente tudo o que acontecia. Insistia até que minha tia retirasse a ocorrência. Teve uma vez que minha tia exigiu que ela fizesse um exame sexólogico depois que a Íris relatou a primeira vez que Michael a estuprou; ela ligou pra irmã e disse que tudo aquilo tinha acontecido 40 minutos antes. Minha tia anotou cada palavra em um caderninho, viajou a madrugada inteirinha e chegou em Duskwood às 8:00 pra fazer a denúncia, e adivinha? Naquela mesma manhã, às 5:00, meu pai acordou eu e Miles e disse que nossas malas já estavam completamente arrumadas, que partiríamos em um vôo pra Veneza em quarenta minutos e que deveríamos tomar banho, nos vestir e colocar absolutamente todas as coisas no carro. Impressionante, não acha?

— Mas isso... — Lilly tenta protestar, mas seus lábios não produzem som.

— Isso é simplesmente... — A voz assolada de Cleo foi gradualmente morrendo em sua garganta, permitindo que a sala regressasse ao seu silêncio perturbador.

— Impossível? É, eu também achava que era. Mas bater em mulheres e administrar bares não era a única coisa que meu pai sabia fazer. — A garota bufa, querendo concluir a elucidação. — Ele tinha começado a traficar drogas desde a faculdade, quando conheceu minha mãe. Foi subindo de posto ano após ano, teve que matar algumas pessoas pra isto. Era influente em vários cantos do país, sempre na encolha e comprando o silêncio da polícia. Mas, é, hoje em dia ele tem aquela coisa disfuncional que ele insiste em chamar de máfia. Coisinha brega do caramba.

— O Michael é mafioso?! — Perquire Thomas.

— MEU DEUS, SEU CORNO, JÁ CHEGA! — S/N esbraveja, gesticulando. — QUE TANTO DE PERGUNTA É ESSA, PORRA? NÃO TÁ ESCUTANDO A HISTÓRIA NÃO?

Só mais um minuto - DuskwoodOnde histórias criam vida. Descubra agora