Capítulo 12 - Outra era, outro tempo

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   Ela aspira o ar cortante que entre por dentro da janela, se assegurando que não faça o mínimo estrépito possível para que não acorde Darkness e Miles, que estão cochilando de maneira terna no sofá do primeiro andar da casa, abraçados.

   S/N encosta suas quatro malas no sofá.

   A menina se assenta na extremidade do sofá, encarando os dois.

   Ela passa seus dedos álgidos pela maçã do rosto do irmão. Ela logo afasta o medo quando a dor a de cabeça a leva para outro lugar. Em outro ano. Outra era. Outro tempo.


Quase dez anos atrás

— Você não me pega, você não me pega! — A menina de se apressarura no gramado do orfanato de Hillary Green Day, seus cabelos achocolatados esvoaçantes fazendo uma trilha por onde passavam.

— É isso o que a gente vai ver! — Miles grita, se esforçando para se manter em seu enlace.

   Uma figura ao longe faz a garota parar de correr.

— Isso aí! Te peguei, Ovelhinha! — Ele afirma, esbarrando em sua irmã e levando os dois corpos ao capim do chão.

   Em um movimento inopinado, sua irmã agarra o colarinho de Miles e o joga para o lado, ficando por cima do maior.

— Não valeu! Eu tava distraída pelo visitante. E "Ovelinha"? Por que "Ovelinha"? — Ela indaga, os olhos acastanhados e arregalados de ambos fincando um laço telepático invisível entre os gêmeos.

— Ah, cê lembra daquela história do menino mentiroso, as ovelhas e o lobo lá? Então. Na história, o menino que cuida dos animais mente tantas vezes que viu um lobo que os adultos param de ir atrás dele pra cuidar das ovelhas. Então, quando aparece um lobo de verdade, ninguém vai ajudar o menino e o lobo vai correndo atrás das ovelhas até devorar todas elas e, no final, acaba comendo o próprio menino. — Ele elucida, as pupilas refletindo o esplendor do sol por trás do corpo de sua irmã. — Então, é tipo pega-pega. Você é a ovelha, porque sempre é a primeira a ser pega por mim e não o contrário, se machuca muito, é muito inocente e foi uma das que, tipo, pagou por algo que não fez.

— Eu não sou inocente! — Ela se defende, prendendo os pulsos de seu irmão no chão.

— É sim. E, tipo, eu sou o lobo porque eu sou muito malvado, sou um machão muito bonito e fui a consequência das mentiras do menino. Que acabou fazendo ele se arrepender. — Um sorriso desafiador raia nos lábios de Miles, as íris marrons tramando alguma coisa.

— E quem é o mentiroso, "machão"? —
Inquire S/N, estreitando os olhos.

— Isso a gente discute quando o chefe da polícia de Corvallis vazar daqui. Agora sai de cima de mim. Eu não sou cadeira não! — Ele a empurra, fazendo a menor sair de cima dele.

   Em cerca de vinte segundos, a silhueta da governanta emerge das sombras do edifício polido.

— Tem visita pra vocês, Hansons.


Sete anos atrás

   Miles se debate contra os dedos em seu pescoço na tentativa de recuperar o oxigênio que lhe é roubado.

   Ele tenta afrouxar o toque, mas a mão logo o leva poucos centímetros acima do chão.

— Você se acha só por saber mexer nesses seus joguinhos e ter a proteção do seu titio delegado, não é? — O rapaz que o enforca interpela, seus olhos verdes retratando fúria. — Mas isso não quer dizer que você pode sair por aí me denunciando pra vadia da governanta quando eu bato no seu namoradinho, bichinha desgraçada.

Só mais um minuto - DuskwoodOnde histórias criam vida. Descubra agora