16. É assim que as estrelas decidem

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Saber que você precisa guardar um segredo não é lá uma das melhores coisas do mundo.

Como eu já estava carregando muitos problemas dentro de mim e recebendo o dobro em um curto período de tempo, preferi acreditar que todos esses ocorridos seriam algo fácil de lidar, considerando a minha experiência com situações complicadas e como aceitava elas naturalmente.

Só que eu estava redondamente enganado.

Eu nunca nem devia ter me acostumado a deixar situações complicadas seguirem para dentro da minha zona de conforto, porque eu acabei caindo na mentira de que eu era capaz de superá-las, se apenas deixasse elas se resolvendo sozinhas.

Novidade: eu não era capaz.

Tinha passado tanto tempo parado, fingindo que sabia o que fazer, que acabei reprovando na prova da vida e agora estou entalado até a garganta de contratempos. Todos, com a sua respectiva consequência.

A primeira, era a mentira do intensivão de matemática. Essa é a mais fácil de todas, e depois do reencontro da banda, eu iria contar toda a verdade do que aconteceu para a minha mãe. Um peso a menos para carregar na consciência, e um motivo a mais para não ficar preso dentro de casa e escapar da realidade.

A segunda, era esconder de Taehyun que eu havia voltado a conversar com Soojin, e de quebra, marcamos um contrato proibido de investigação. Ela não tinha me comunicado de volta, mesmo trocado os nossos números de celular, e eu iria começar o meu trabalho assim que me encontrasse com Soobin novamente – um peso a mais para carregar na consciência.

E a terceira, era ter que enganar ambos Soobin e Heeseung do meu verdadeiro paradeiro com relação aos seus respectivos eventos.

Coincidentemente, todos os segredos que estou mantendo estão relacionados a Soobin. E isso vai contra a minha dignidade.

Por enquanto, eu estava pondo em prática o terceiro segredo.

Como eu preferia mil vezes assistir um filme e pesquisar quinhentos resumos e análises diferentes na internet do que realmente ler um livro, eu consegui juntar material suficiente para falar na segunda reunião do Quitute Literário. Felizmente, ninguém reparou que eu tinha trapaceado para ganhar a atenção de Heeseung, focando em cada depoimento para não deixar o clima decair muito.

Talvez fosse porque uma parcela, que nem chegava a metade da quantidade de pessoas que vieram pela primeira vez, tenha aparecido neste segundo encontro. Havia agora os verdadeiramente interessados no clube, o que era um alívio para Heeseung, que estava cansado de ficar fazendo pose com os seus milhares de fãs para tirar uma foto até no evento que ele próprio preparou com tanto carinho.

Inclusive, mesmo reparando no pequeno grupinho que se formou no Quitute, Heeseung parecia estar contente por isso ter acontecido. Ou ele sabia fingir a sua felicidade muito bem.

Não sei, gosto de pensar que os sorrisos involuntários de Heeseung são reflexos que aparecem porque foram afetados por mim.

E como previsto, o Quitute Literário terminou exatamente às três horas da tarde. Pela minha pressa de ir embora, nem tive tempo de devorar muitos bolinhos de mirtilo. Me despedi de Heeseung com dó no coração, vendo seu sorriso diminuir à medida que eu me afastava do salão, e segurei firme para não voltar àquela mesa de quitutes e dar um socão na cara do Hyunsuk, por ficar segurando no braço de Heeseung e forçando intimidade com ele o tempo todo.

Pela minha breve conta fraquíssima em matemática – eu levava a mochila com o material, caso Soobin quisesse começar as nossas aulas particulares a partir de hoje –, o trajeto da casa de Heeseung até a de Soobin levaria aproximadamente quarenta minutos. Dez minutos a mais do que eu levaria se fosse da minha casa até a sua, e resolvesse comprar algumas comidinhas para o nosso lanche da tarde.

É Assim Que a Banda TocaOnde histórias criam vida. Descubra agora