22. É assim que se faz continha de divisão

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A minha teoria é de que Heeseung havia roubado uma parcela da minha vitalidade me dando aquele beijo, igual um vampiro sugador de almas, cometendo um pecado a favor da sua sobrevivência utilizando do ato mais carinhoso e verdadeiro que os seres humanos já descobriram para expressar os seus sentimentos mais profundos através do toque.

Desde que nos beijamos na quadra do colégio, eu não sentia absolutamente mais nada. Nem uma preocupação, uma ardência ou um incômodo. Era como se eu não existisse mais em terreno plano e tivesse virado fumaça.

Eu não estava esperando por essa.

Dizem que depois que você conquista algo que há muito tempo almejava, a vida passa a perder significado, e por isso nós devemos nos manter longe do topo das conquistas.

Muito pelo contrário, eu discordo com essa ideia, porque eu estava feliz pelo meu beijo com Heeseung ter acontecido. A minha vida ganhou um novo significado, eu acho, porque tudo parecia ter mudado depois do ocorrido.

Os pássaros cantavam de uma forma mais agradável, o vento bagunçando o meu cabelo não incomodava mais, e o formigamento do meu machucado na boca parou de incomodar. Eram alguns exemplos que eu me agarrava, para justificar que aquele beijo sim, valeu alguma coisa. Eu só precisava me acostumar com a ideia.

Eu não ter sentido algo depois que afastamos as nossas bocas obviamente não é um problema para ser questionado.

— Beomgyu-ah, tá no mundo da lua? — Jongseong abanou a mão na frente do meu rosto, tentando me despertar. Estávamos em mais um ensaio da banda, e sem querer, eu tinha parado de tocar baixo para cair na graça dos meus pensamentos intrusivos. — Terra chamando Choi Beomgyu, Terra chamando Choi Beomgyu, responda! Câmbio...

— Ha, ha. Muito engraçadinho — ri com falsidade, dando um tapinha na sua mão que estava me abanando. — Eu tô bem, relaxa. Só tô me sentindo um pouco aéreo hoje.

— Mas você não é careca para se sentir aéreo — Hyunbin soltou, fazendo um "ba-dum-tis" com a bateria. Todos olhamos para ela com uma careta tediosa. — Ah, é sério que vocês não pegaram a piada? Aeroporto de mosquitos! Nunca ouviram essa expressão? Por favor!

Jongseong torceu o nariz, e Soobin negou com a cabeça, aproveitando a pausa para arrumar alguns botões da sua mesa de DJ. Aquela "piada" me deixou ainda mais aéreo do que quando eu acordei hoje de manhã, mas eu perdoo a Hyunbin. Ultimamente, ela ficou com essa obsessão de se tornar a primeira maior comediante da banda, e ninguém iria impedir ela de lutar pelo pódio.

— Você é estranha, Hyunbin-ah, mas a piada valeu a pena — garanti, retirando o baixo do corpo e o pousando na cadeira atrás de mim, onde me sentei em uma posição atirada. — Aigoo, vamos dar uma pausa, galera? Eu realmente tô me sentindo cansado.

— E eu estou com fome. — Hyunbin saiu do seu banquinho, caminhando manca na direção do nosso líder como se fosse um filhotinho. Soobin fingiu que não era ele a quem Hyunbin se referia, e continuou com o seu trabalho de verificar seu instrumento. — Oppa, o que a sua mãe preparou de lanche para a gente hoje?

— Guacamole do dia seguinte com Doritos, servida? — Jongseong falhou miseravelmente em segurar uma risada do deboche de Soobin, ganhando um olhar atravessado da nossa mascote para si. Depois de ameaçá-lo como tradição, Hyunbin voltou-se para Soobin, balançando os ombros feito uma criança pidona.

— Vai lá buscar pra gente? — Fez um biquinho. — Por favor! Eu adoro comer guacamole com Doritos. Qualquer coisa é capaz de satisfazer a minha fome.

— Qualquer coisa? — Jongseong sorriu cínico. Hyunbin mostrou o dedo do meio para ele, sem deixar de fitar Soobin.

— Hyunbin-ah, eu não vou trazer comida pra cá. Eu nem faço a mínima ideia da onde a minha mãe guardou os Doritos! — Exclamou, finalmente retribuindo o olhar pedinte da garota. — Se quiser ir comer, vai ter que ir lá em casa procurar. Agora, eu estou muito ocupado.

É Assim Que a Banda TocaOnde histórias criam vida. Descubra agora