3. É assim que você decide continuar

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— Hyung — Taehyun me chamou, depois de termos brincado de nos empurrar na calçada, e eu quase cair de cara no asfalto por ter sido descuidado e tropeçado numa pedra. — Eu estava pensando...

— Você está pensando?! Que grande novidade.

Caminhávamos lado a lado há alguns minutos, depois de passar todo aquele sufoco nos espremendo feito sardinhas dentro da lata no transporte público. Apesar de estar acostumado a andar de ônibus desde criança, eu sabia que nunca iria me acostumar a compartilhar espaço e sofrer congestionamento só para passear livremente pela cidade.

Eu podia gostar de ficar ao redor das pessoas, mas todas as situações tem exceções, e eu era bonito demais para ficar me esfregando sem querer no meio de tanta gente feia, cansada e suada dessa forma tão gratuita.

Eu tenho meus momentos de Regina George muito específicos.

E depois de termos rido e agido feito dois bobos na parada de ônibus, seguimos a mesma caminhada de todos os dias de semana úteis rumo às nossas casas. Morávamos na mesma rua há mais de seis anos, desde que a mãe de Taehyun se separou do seu pai, o ex-prefeito da cidade de Tongyeong, agora presidiário e uma vergonha que manchou o nome da sua família – mas esse é assunto para uma outra hora. A minha mãe e a de Taehyun, a queridíssima tia Ara, se conheciam desde o Ensino Médio, então estávamos meio que destinados a nos tornar melhores amigos antes que pudesse ser imaginado. Sabe, esse lance de só manter uma tradição bobinha que começou com uma briga entre duas adolescentes histéricas sobre um vestido carmesim e transformar em uma conexão para a vida toda.

Taehyun morava no começo da nossa rua, que se localizava em uma área próxima ao centro da cidade, mas tínhamos que pegar um ônibus mesmo assim, se não quiséssemos chegar suados por conta do calor infernal que aquele final de verão estava fazendo em Tongyeong. Depois que ele se despedia de mim, nossa conversa precisava obrigatoriamente dar uma pausa, e eu fazia todo o piloto automático – tomar banho, esquentar a comida para o jantar e ir correndo para o meu quarto antes que o meu pai abrisse o bico sobre alguma coisa – até a hora de dormir.

Para alguém que ama bagunçar e se divertir a todo instante, eu tinha envelhecido muito mal.

Taehyun me lançou um olhar furioso pela minha piada, voltando a ficar de frente para a rua, e respirou fundo.

— Vamos precisar de um violão — declarou.

Arqueei as sobrancelhas. Aquilo era tão lógico quanto dizer que o céu é azul e a água é transparente, pois o violão era o que menos me preocupava. Eu estava tão vazio de ideias sobre como recuperar as minhas habilidades musicais para enfrentar Soojin e Soobin, além de agradar Heeseung e recuperar as minhas chances perdidas com ele, que ouvir uma frase sem sentido de Taehyun me soou desagradável.

Mas ele não parou. Existia algo por trás daquela constatação.

— Você... vai pedir um para o seu pai? — Perguntou devagar, diminuindo a velocidade de seus passos e os atrasando em comparação aos meus.

Foi uma tática excelente sua, pois eu parei de caminhar no instante que ele inseriu o velho que engravidou a minha mãe na conversa. É, meu pai não significava nada mais do que isso para mim, e Taehyun foi cuidadoso o bastante para não me deixar ainda mais nervosinho.

Depois que você deixa de ser criança, as pessoas grandes passam a perder a inspiração para você.

Meu pai, Choi Namkyung, o homem que antes tinha força o suficiente para deixar o Superman no chinelo, lábia de invejar o maior comediante do mundo, e talento musical o suficiente para se tornar o novo David Bowie coreano, hoje em dia era o pior estorvo que a minha mãe e eu tínhamos que aguentar dentro de casa. Com suas reclamações mesquinhas, resmungos manhosos, choros falsos e comentários desagradáveis, eu evitava ao máximo permanecer no mesmo ambiente que ele, na tentativa de esquecer que ele ainda estava ali, atormentando a nossa vida e fingindo ser alguém importante na família.

É Assim Que a Banda TocaOnde histórias criam vida. Descubra agora