20. É assim que o artificial pega fogo

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Se existe uma pequena probabilidade, contrariando noventa e nove por cento, de que eu vá conseguir sustentar o meu esquema sem acabar causando algum prejuízo hoje, então eu estou disposto a colocar a minha mão no fogo e confiar nesse um por cento.

E se no caso, alguém decidir apostar todo o seu dinheiro na probabilidade de noventa e nove por cento, até o final do dia essa pessoa provavelmente terá muitas chances de acabar milionária.

A minha sorte na jogatina, é que Taehyun manteve a sua promessa em me ajudar a enganar os dois rapazes mais importantes da minha vida ultimamente, mesmo eu não merecendo um pingo da sua pena, por ter sido um babaca com ele e com a sua grande revelação australiana de alguns dias atrás.

O plano dessa vez foi constituído inteirinho pela sua mente brilhante, e eu tive que manter todas as condições ditas anteriormente – sobre eu me confessar para Heeseung, contar que estava saindo com ele para Soobin e terminar o acordo com Soojin — se quisesse receber a sua ajuda dessa vez.

Foi a única forma parcial que eu encontrei de pedir desculpas para Taehyun, sem mencionar o porquê eu estava pedindo desculpas para ele.

Eu não engoli a ideia do intercâmbio muito bem. Sendo sincero, eu mal conseguia imaginar ficar longe do meu melhor amigo por tanto tempo, quem dirá ver ele partindo para morar em outro país.

Reconhecer que Taehyun está construindo a sua própria vida, da sua maneira, e caindo fora da bolha que eu havia criado para ele sobre seguir com o seu papel de "melhor amigo e conselheiro do Choi Beomgyu", havia desmanchado totalmente a minha concepção sobre a nossa amizade. Enquanto eu assistia o desenrolar do seu planejamento na minha frente, eu preferi fingir que nada fora do meu mundinho cor de rosa estava acontecendo, e acabei ignorando a existência de Taehyun como uma pessoa de verdade, por escolha própria.

Eu sei que é egoísmo pensar dessa forma, mas eu juro que acreditava que Taehyun levava a vida igual a mim: de forma relaxada, sem se preocupar com o futuro, lidando com qualquer coisa que viesse na nossa frente sem compromisso.

No meu mundo ideal, Taehyun e eu seríamos inseparáveis para sempre. Ele seria o meu padrinho de casamento, nós iríamos para o mesmo asilo, eu o acompanharia para receber o prêmio de melhor jornalista da KBS, e seria o primeiro a gritar quando ele ganhasse o troféu na noite da premiação.

Eu pensava que iríamos ver juntos as estrelas cadentes cruzarem o céu, assistir nossas vidas passarem diante dos nossos olhos, e sorrir pelas nossas conquistas, sendo elas significativas ou não. Mas juntos. Tudo juntos. Juntos para sempre, um pelo outro, feito unha e carne.

Na minha cabeça, almas gêmeas são proibidas de se separar.

Considerar que Taehyun não é a minha alma gêmea, mesmo depois de tudo o que passamos ao longo da vida, tudo o que ele aguentou pela minha parte e eu aguentei pela dele... Era a gota d'água. Já bastava os pensamentos que pesavam na minha consciência, eu não precisaria questionar mais uma vez a minha amizade de anos com Kang Taehyun de novo só por causa de um motivo tão fútil.

Parece que a semana que nos afastamos, quando eu entrei na The Gussets e Taehyun ignorou a minha existência, estava se repetindo de novo, mas em um universo paralelo. Quando eu não estava fingindo que me sentia bem do lado dele, eu passava imaginando Taehyun na Austrália, estudando no intercâmbio e falando inglês com outras pessoas. Ou, pelo menos, tentava usar a minha imaginação para me acostumar com a ideia.

Isso é, tanto para eu me acostumar, quanto para cair na real de que uma hora ou outra eu teria que enfrentar a vida adulta também. E eu estou agindo praticamente igual uma criança birrenta desde que me conheço por gente.

É Assim Que a Banda TocaOnde histórias criam vida. Descubra agora