11. É assim que se declara uma guerra

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O dia amanheceu muito bem.

Bem demais para disfarçar uma noite mal dormida, uma chuva barulhenta e um pós-trauma de um show que terminou completamente péssimo, isso sim.

E eu descobri, que diferente desses filmes de baixa qualidade que se tornam clássicos por motivos desconhecidos pela comunidade cinéfila, ficar chorando no meio da chuva não é nem um pouco saudável, e você pode acabar pegando o pior resfriado de toda a sua vida se for tentar fazer isso, nem que seja para enganar a si mesmo e fingir que as suas lágrimas estão valendo a pena.

Porque elas não estão.

Taehyun e eu ficamos conversando até às quatro da manhã, se bem me recordo. O meu cérebro mal funcionava direito por causa do sono, mas o desespero de recuperar todo o tempo perdido com o meu melhor amigo falou mais alto, nos fazendo conversar até as nossas vozes ficarem distantes o suficiente para anunciar o nosso cansaço. E diferente do que sempre acontecia, Taehyun não recusou em dividir a cama comigo, e dormimos abraçadinhos, igual fazíamos quando éramos crianças e dormíamos com mais frequência na casa um do outro, afastando todos os pensamentos negativos pelo calor da coberta da princesa Jasmine e sentindo o cheiro característico um do outro de pertinho.

Eu podia sonhar em dividir a minha vida com um amor verdadeiro do meu lado, mas eu sei que jamais ficaria tão íntimo de alguém no mesmo nível que eu era com Kang Taehyun.

Ao sentir o sol bater contra os meus olhos, me despertando do sono pesado, fico tentando relembrar tudo o que eu tinha confessado para Taehyun na noite passada, sobre o que aconteceu com a banda, como eram os integrantes, se Soobin era mesmo um bom líder, e como conseguimos o ingresso para a apresentação na Crystal Snow. Lembro-me vagamente das reações de Taehyun, que amava ouvir uma boa fofoca, e particularmente, eu enchia o meu papo com mais detalhes só para vê-lo opinar e soltar um "oh!" em exclamação no final – uma mania que ele adota toda vez que perde a pose de durão só para aumentar o calor do momento.

Pelas minhas contas, eu acho que falei absolutamente tudo. E sobre a surpresa que Taehyun escondia de mim – e o que fez ele se afastar durante a semana inteira –, eu fingi engolir aquilo com farinha, porque assim como ele, eu também tinha os meus segredinhos que não queria dividir com mais ninguém. Mas isso não evitou que eu ficasse chateado por ele preferir optar por esse caminho.

Não me conformava que teria de aprender a esperar para receber aquela misteriosa notícia, então preferi fingir que ela nem existia. É uma preocupação a menos para mim, e menos cabelos caindo de estresse na hora do banho.

Ao dar uma olhada ao redor, enxerguei Taehyun acordado, já vestindo a sua roupa do dia – um moletom vermelho com uma calça jeans velha e meias brancas – sem reparar que eu havia despertado, e bocejei com gosto, chamando a sua atenção.

— Bom dia, Bela Adormecida — me cumprimentou, buscando alguma roupa no seu armário e me atirando com brutalidade.

Como a arquitetura da casa de Taehyun era igual as outras da nossa rua, o quarto dele tinha o mesmo tamanho que o meu, apenas com as cores e objetos sendo diferentes. Na escrivaninha dele, por exemplo, haviam vários livros abertos e atirados, indicando que ele tinha estudado muito de novo. Nas paredes, pôsteres de séries nerds como Doctor Who e The Big Bang Theory enfeitavam o espaço de tom alaranjado claro, e o toque de toda aquela organização estranhamente confortável, era o seu abajur do bichinho verde do Monstros S.A, em cima da mesa de cabeceira cheio de cabos USB enroscados um no outro.

Se você não conhecesse Taehyun, não iria encontrar beleza alguma ali, por isso que quando eu prestava atenção, aquele quarto se tornava tão especial para mim.

É Assim Que a Banda TocaOnde histórias criam vida. Descubra agora