14. É assim que você atende o celular

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Demorei exatas cinco horas, quarenta minutos e cinquenta e quatro segundos para perceber que eu tinha, descaradamente, flertado com o rapaz pela qual eu era perdidamente apaixonado, na frente de todo o clube do livro.

Sobre eu ter tomado consciência disso, e de que eu havia estragado totalmente o clima do encontro depois de ter xingado Soojin de dentuça bocetuda e caído fora às pressas, foi apenas um bônus adicional para contemplar o meu péssimo feito.

Reconhecer isso foi um erro terrível, porque eu fiquei remoendo o que aconteceu no Quitute Literário pelo resto do final de semana inteiro, e permaneci sem responder Heeseung no KakaoTalk, entregando o que eu jamais imaginava que aconteceria entre nós: o temido e maldito vácuo.

E como dói. Não sei se posso misturar todas as minhas dores emocionais com essa situação complicada, mas com certeza, ter que ficar em silêncio doía bem mais do que viver pela segunda vez consecutiva a semana em que eu fiquei afastado de Taehyun, conviver com os meus problemas de papaizinho, e esquecer de preparar o jantar e ouvir mamãe me dar um sermão por eu ter sido irresponsável.

Ignorar Heeseung e sua existência magnânima era como negar a existência de Deus através da ditadura de um ateu, por exemplo.

E tudo me lembrava dele. As músicas que eu ouvia da Taylor Swift, os mocinhos dos filmes românticos que eu assistia, até palavras aleatórias dos livros escolares me lembravam Lee Heeseung. O cara tinha construído uma mansão maior do que a própria casa dentro da minha cabeça, tudo depois de eu ter o abandonado no meio daquele pessoal estranho no salão, e ainda ter escancarado com todas as letras que eu preferia ficar olhando para ele ao invés de ir comer com os outros participantes.

Eu sou um completo idiota.

Aquele sentimento nunca iria desaparecer de uma hora para a outra, então sem escolha, desliguei os fones de ouvido e parei de escrever a minha redação. Levo as mãos aos olhos, os esfregando de pura frustração.

Se arrependimento matasse, eu estaria de encontro com os anjos há muito tempo atrás.

Era domingo de tarde, vinte e quatro horas depois do primeiro encontro do Quitute Literário, e apesar do meu chilique contra Soojin, todos nas redes sociais elogiaram o evento – tecnicamente, eles elogiavam a Heeseung. E para cada foto dele que eu via no Instagram, tirada por alguém que havia aparecido no primeiro encontro, eu imediatamente descartava a aparição dessa pessoa para a próxima semana, reduzindo o tamanho do elenco dos participantes para – o que era quase quarenta pessoas no primeiro dia – oito pessoas que haviam realmente gostado da ideia central. Tecnicamente, se contar comigo, são nove, e se juntar com o dono do clube, a soma total é dez.

Heeseung ficaria tão decepcionado quando chegasse a próxima reunião...

Frustrado, atiro meu corpo para trás na cadeira, e fico encarando o teto. Todas as minhas tentativas de afastar aqueles pensamentos, e a memória de ver Heeseung triste pelo meu comportamento, após eu ter, consideravelmente, estragado o primeiro encontro do Quitute Literário, martelavam ardentemente na minha cabeça, me deixando preso em um estado catatônico de mágoa contínua.

Nada me distraía. Era só eu piscar, que os olhos de cachorrinho do Heeseung surgiam diante de mim.

— Eu não suporto mais — declarei, me levantando. Era um absurdo. Eu estava fazendo um dever do colégio em plena tarde de domingo, sem ter comido um lanchinho depois do almoço, e há um sol escancarando o mundo do lado de fora, implorando para ser aproveitado antes do anoitecer.

Eu só podia estar biruta de preferir afogar as minhas mágoas nas letras, quando havia opções muito mais interessantes à minha disposição para eu seguir.

É Assim Que a Banda TocaOnde histórias criam vida. Descubra agora