12. É assim que o diabo faz um acordo

649 92 765
                                    

Ter que aguentar um dia inteiro engripado no colégio não era uma escolha boa para eu fazer depois de passar um fim de semana tão conturbado, mas como a minha mãe somente tolerava que eu faltasse quando estivesse no nível de ter um pé confirmado na cova, eu não pude protestar contra.

E também, havia o meu pai. Depois da nossa briguinha no domingo, eu comecei a evitá-lo o dobro de vezes mais do que eu fazia antes.

Com esse objetivo em mente, nem reclamei quando levei um estoque completo de lenços de papel na mochila, e nem mencionei nada enquanto andava de ônibus com Taehyun, caindo no sono no seu ombro ao invés de iniciar uma conversa com ele.

Taehyun também não quis questionar nada sobre a minha situação, concluindo tudo dentro da sua cabecinha misteriosa que muita coisa havia acontecido quando eu voltei para casa, mas isso era uma atitude da sua parte que já era previsível. Por causa disso, quando nos encontramos pela manhã para ir ao colégio, a nossa conversa imediatamente morreu nos cumprimentos matinais, e ficamos em silêncio durante todo o percurso até chegar na parada de ônibus.

Quando alcançamos a rua da entrada do colégio, Taehyun resolveu abrir a boca:

— E aí? Ele falou alguma coisa?

No quesito ele, eu fiquei tão mal ontem que preferi evitar qualquer atividade que proporcionasse serotonina, incluindo conversar com Taehyun, que acabou ficando sem notícias minhas até agora. Basicamente, o silêncio que tivemos dentro do ônibus serviu como um preparo para adentrarmos nesse assunto proibido.

— O velho deu uma de pai protetor e ficou me enchendo o saco assim que eu cheguei ontem — comecei, caminhando ao seu lado pela calçada. — Eu usei a mesma desculpa, ele deu um chilique e eu subi pro quarto.

— Ele que deu um chilique, ou foi você quem deu? — Taehyun perguntou tão descaradamente que me fez virar o rosto com força para ele, levando a mão ao peito e fingindo descrença.

— Você acha que eu daria um chilique na frente do meu querido papaizinho?! — Taehyun assentiu com a cabeça, fechando os olhos. — Que merda, Kang Taehyun. Com você não posso nem fingir ser bonzinho.

— É porque você não é — declarou, parando de caminhar assim que chegamos no portão. — Só espero que não tenha derrubado ele da cadeira dessa vez.

— Não derrubei, te juro. — Juntei as mãos em oração, fazendo uma pose de anjo inocente, mas com um sorriso diabólico crescendo no meu rosto depois. — Mas que deu vontade, ah, se deu.

— Você não presta nenhum pouquinho, hyung. Não é à toa que todos te chamam de Diabo. — Taehyun revirou os olhos, se juntando com a fila de alunos na entrada para fazer o check-in.

O acompanhei, ficando atrás de si. Mais uma vez, a mesma semana de todos os últimos anos recomeçava, anunciando o encerramento do fim de semana mal aproveitado e novas atividades com o que eu poderia me preocupar agora, além do fiasco com a apresentação e com o meu pai.

Era um alívio perceber que, não importa o quanto eu caísse e chorasse, a vida ainda iria continuar acontecendo para mim, me ajudando indiretamente a me levantar e me fazer esquecer dos momentos ruins que eu frequentemente passava e guardava na memória.

A rotina do colégio, as brincadeiras com Taehyun, as conversas com os meus colegas... Tudo era leve e despreocupante. Era o que me confortava, dizendo que eu ainda era um adolescente, e as preocupações ainda estão muito longe para poder me atingir.

Mas isso não garantia que eu ainda não havia escapado de me enfiar em alguns problemas, ainda mais se valesse a pena eles serem criados.

Não era ironia do Taehyun quando ele me chamou de diabo há minutos atrás. Ele foi sincero. Eu realmente era assim.

É Assim Que a Banda TocaOnde histórias criam vida. Descubra agora