É Assim Que a Banda Toca

2. É assim que se arrepende de algo

Ainda não acredito que eu precisei de mais três períodos de aula para entender que a ideia de entrar para a banda do Soobin foi pura estupidez.

E é tudo culpa daquela aparência tristonha que o Lee Heeseung carregava quando se afastou de nós no vestiário.

Aquilo não saía da minha cabeça por nada nesse mundo. Por que ele tinha ficado tão para baixo? O que eu tinha feito de errado? Heeseung não queria me ver tocar violão? Ele ter me chamado pelo nome de maneira informal não era um sinal de que ele gostava de mim? Eu o tinha decepcionado? O que isso significava?

Foi assim que eu juntei todos os pontos.

Eu podia não me importar tanto com Soobin para considerá-lo um obstáculo, ainda mais por termos nos conhecido – com todo o desgosto – recentemente e não nos conhecermos o suficiente, mas eu reparei que havia uma certa rivalidade entre ele e Heeseung, e isso era claramente evidente.

Quando Heeseung, mesmo chamando Soobin de hyung – ele fez isso só para disfarçar o desconforto perto do Quatro-olhos, certeza –, viu que eu iria me candidatar ao suposto teste para a banda, ele pode ter me desconsiderado da sua lista de interesses amorosos na primeira oportunidade, só para não ter que se estressar com o conflito de aturar Soobin de novo. Uma ação previsível, e até bem ética, porque se fosse comigo, eu teria me enfiado no meio e trazido ainda mais pressão psicológica para dentro do círculo, o que iria piorar a situação.

Eu praticamente perdi todas as pouquíssimas chances com o amor da minha vida naqueles breves segundos, e eu nunca me senti tão arrependido, por não saber pensar direito quando estou sob pressão, e ter me preocupado tanto em causar uma boa primeira impressão em Heeseung, sem considerar que eu nunca poderia ser capaz, culpa da péssima fama que eu carrego dentro do colégio.

Qual é, eu sou Choi Beomgyu, caralho! O rapaz que grita problema a cada passo que pressiona na Terra, o que seduz todo mundo com seu cabelo selvagem e desenvolve mil e um inimigos só por soltar a sua opinião acerca de algo. Eu não tenho que fingir ser alguém legal para agradar quem me interessa. Eu já tinha conquistado vários garotos antes sendo sincero, então por que com Heeseung, eu queria fazer tudo certinho?

O que esse garoto carregava para me fazer querer mudar da água pro vinho? É isso que significa se apaixonar profundamente?

Foi tudo culpa da situação que deu errado. Sim, foi isso! Se Soobin não estivesse com aquela cara de cu para Heeseung, Soojin criando aflição com todo o seu ar pomposo, Taehyun não abrindo a boca para me defender da situação, e Heeseung na minha frente, me olhando pela primeira vez com tanta intensidade que fazia meu corpo fraquejar e desligar todos os botões funcionais do meu cérebro, eu teria conseguido escapar de me meter nessa furada.

Tudo contribuiu para o meu fracasso. A tragédia estava mais previsível do que atirar alguma coisa no céu e esperar ela cair de volta no chão.

Eu nunca funcionava bem quando me enfiava nesse tipo de situação complicada, e negar alguma coisa ao meu respeito era uma tarefa difícil quando não se podia deixar alguém ofendido. Mas quando o problema se prega somente em mim, como vou reagir e a que atitudes irei tomar para gerar as consequências, eu permito deixar o barco navegar para o caminho mais perigoso, sem querer me preocupar com o desleixo e o que ele ainda pode causar de ruim.

Pensar sobre isso me fez lembrar de Soobin, o rapaz de óculos rabugento, que a qualquer custo tentava dominar o conflito no vestiário para se sentir imponente. E quando assumia o papel do criminoso, ele se tremia todo, por reconhecer que nunca teve poder algum, e que sua confiança era só uma ilusão, porque não havia uma "pessoa certa" enfiada no meio daquele problema.

Talvez eu e Soobin tivéssemos algumas coincidências, afinal.

E agora, nada era capaz de me tirar do mundo dos pensamentos e trazer de volta à realidade. Nem a voz do professor Jang, que lecionava a minha matéria favorita, História da Coreia, seria o suficiente. Eu me remexia na cadeira o tempo todo, aquela imagem de Heeseung pesando contra os meus olhos, e a minha incapacidade de negar uma possível mentira sobrecarregava os meus ombros baixos. Doía tanto que parecia estar começando a pinicar.