5. É assim que se arrasa em uma audição

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Eu já tinha feito umas merdas muito mais complicadas na minha vida antes de me inscrever na audição para a banda de Soobin.

E quando eu falo sobre merdas complicadas da minha vida, algumas delas eu me refiro: uma quase expulsão do colégio por derrubar sem querer um pote de kimchi em cima da neta do diretor, Kang Yeseo; esconder o primeiro aparelho auditivo de Taehyun no meu travesseiro de brincadeira, mas quase ter feito ele enlouquecer procurando pelo objeto, porque aquilo havia custado uma fortuna e ele já tinha o perdido antes por conta própria; e ter feito minha mãe passar vergonha em uma festa dos patrões dela, por ter quebrado uma jarra de vidro enquanto ela servia alguns convidados com canapés ridículos de ruim aos convidados. Tinha outras piores, como torcer o braço de Huening Kai ao empurrá-lo da rampa de skate de propósito e quebrar a janela da camionete do pai de um antigo ficante meu, mas esses acontecimentos eu descartava do meu top 3.

As primeiras, que se encaixam no topo do ranking, são as que eu acabei ferindo pessoas importantes para mim. Taehyun acabou me dando um soco no olho depois que descobriu quem havia dado um sumiço no seu aparelho, minha mãe quase perdeu o emprego depois da festa, tendo que pagar pela jarra quebrada e fazer uns horários extras, e Yeseo adquiriu um ódio tão imenso por mim, que até hoje eu evito esbarrar com ela pelos corredores, fugindo da sua existência igual o diabo foge da cruz.

Ali, comparando todos esses acontecimentos ruins com a experiência vergonhosa de ter que me apresentar na frente de um jurado chato, um time de quatro jornalistas estudantis, Soojin, Taehyun e uma cambada de menos de vinte pessoas na fila da audição, praticamente soava como uma piada pronta para ser paga.

Então por quê eu me sentia tão nervoso só de segurar o violão de Kai?

No fim, ninguém esperava que a chamada para a audição acabasse sendo um sucesso.

Todos no colégio – principalmente eu – achávamos que Soobin ter alugado a sala de dança por um dia inteiro seria um completo desperdício, pois para reservar um lugar tão grande como aquele, as prováveis cinco pessoas que se inscreveram na audição seriam igual formiguinhas no meio do deserto. O que foi chocante, porque não eram apenas estudantes do Colégio de Tongyeong quem se candidataram, como alunos de outras escolas se interessaram pela proposta também. E a fila da audição ficou imensa.

Acabei descobrindo por fontes confiáveis – lê-se: fofocas dos outros alunos – que Soobin não mantinha aquela carranca dele à toa. Ele não tinha uma boa reputação entre os estudantes e tampouco fazia esforço para mudar sua fama. Sendo do terceiro ano, conhecido como o Ranzinza de Dois Metros – um apelido carinhoso em homenagem a sua altura de um metro e oitenta e cinco e personalidade nervosinha, igual ao anão da Branca de Neve –, Soobin afastava todos os seus colegas e alunos no geral com sua arrogância, e ninguém suportava olhar para ele sem ter o desejo de dar um soco no meio daquele narizinho redondinho dele.

Ele era o típico estudante chato que tratava todos com falta de educação, insensível, direto ao ponto, ético o suficiente para degolar até um juiz, e inflexível quando se tratava de regras e exceções – adicionando o meu ponto: briguento para se defender e covarde para assumir quando está errado. Ele agia mais corretamente que o próprio presidente da turma, e muitos alunos novatos até os confundiam, adquirindo imediatamente uma primeira impressão nada agradável do Ranzinza de Dois Metros.

Estava mais do que óbvio, que apesar de ser difícil acreditar que aquele punk de altura igual a um poste tivesse uma aura artística no fundo da alma, ninguém ia querer se arriscar a conviver com ele por causa de uma bandinha de garagem. A imagem que você carrega na sociedade é mais forte que a maneira pela qual você é inserido nela, e se você for conhecido por ser alguém podre, acabará sendo a primeira fruta a ser descartada da cesta de piquenique.

É Assim Que a Banda TocaOnde histórias criam vida. Descubra agora