29. É assim que se vira os dois lados da moeda

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Eu só consegui voltar no dia seguinte para o colégio porque a minha mãe precisava assinar a advertência do Diretor Morsa.

Por consequência do que aconteceu no corredor da diretoria, eu acabei não aguentando ver Soobin me ignorando por tanto tempo, principalmente quando eu o espionava na área dos terceiros anos durante o recreio, e decidi, por minha própria conta e risco, fingir uma febre durante os últimos três dias letivos da semana e perder uma prova de química marcada na quinta-feira.

Minha tristeza e coração partido são mil vezes mais importantes do que as minhas notas na grade de exatas.

Acostumada com as minhas péssimas mentiras, mamãe apenas definiu que eu não estava me sentindo bem por um motivo importante, então ela não ficou me bombardeando com perguntas sobre o porquê eu havia chegado mais cedo em casa na segunda-feira com cara de choro e uma folha de advertência alegando que eu havia violentado uma aluna.

Eu sei que ela não me negaria se eu tomasse a decisão de faltar a terça-feira no colégio também, mas eu já estava entalado o suficiente de emoções negativas para aguentar receber uma expulsão por falta de presença nas aulas.

Como muito raramente acontece, e sendo um evento que chocava a nossa família, acabei passando o resto da semana dentro de casa e convivendo com o meu pai, ajudando na limpeza diária e ignorando as sessões de terapia dele. A própria psicóloga que nos visitava semanalmente sugeriu que eu participasse um pouco mais do que de costume, mas preferi me manter na minha, só observando o que aquela técnica de cavar buracos fazia dentro de Namkyung para deixá-lo curado de toda a negatividade que estava presa dentro de si.

O resultado foi uma sessão de terapia gratuita para mim também, o telespectador que começava a questionar se deveria perdoar ou não o vilão da história.

A conversa de Namkyung com a psicóloga fluía naturalmente, ela sabia como liderar a situação e arrancar cada pedacinho quebrado dentro da alma dele. Namkyung também facilitou, acabando por chorar em todas as sessões que ele tinha com a médica, depois de confessar todos os seus crimes e como se sentia com relação a eles.

Eu só aparecia durante as sessões no começo, para fazer sala e oferecer um copo d'água, até que houvesse a oportunidade de cair fora, só esperando a psicóloga se despedir de nós dois ao desejar um bom dia na porta e ir embora sem olhar para trás.

Ela era uma mulher muito simpática e paciente, combinava com a sua profissão escolhida.

Na sexta-feira, a psicóloga apareceu de manhã, na rotineira consulta de três em três dias, e começou o seu serviço prontamente. Mas algo na conversa dela com Namkyung especialmente me chamou a atenção, pelo assunto abordado fazer parte do meu cotidiano também, e me relacionar com isso quando se está passando por uma baita dor de cotovelo, me dava um tipo de conforto inesperado, mas extremamente necessário para a ocasião.

— Acho que o Beomgyu-ah ter problemas nos relacionamentos dele surgiu por minha causa — confessou Namkyung, suspirando para a médica.

A psicóloga está sentada no sofá de frente para ele, que está de costas para mim, e os observo da porta da cozinha. Era para eu estar lavando a louça do café da manhã e depois recolher a roupa suja na máquina de lavar, mas a menção do meu nome pela boca de Namkyung me chamou muito a atenção para eu poder distrair o meu coraçãozinho partido com tarefas domésticas.

— Por que você acha isso? O que influenciou na relação entre vocês dois para você acreditar que o seu filho somente se envolve em relacionamentos complicados por sua causa?

Muitas coisas, doutora. A começar, pela cicatriz que eu tenho na sobrancelha faz dez anos.

— O Beomgyu e eu nunca tivemos um relacionamento saudável de pai e filho — Namkyung começa a explicar. — Desde que eu me acidentei, eu sempre o tratei com muito desdém, enxergando nele um futuro que não me pertencia. Eu nunca superei a expulsão da minha antiga banda, e ver o meu sonho desaparecer diante dos meus olhos quando eu estava perto de atingir o auge, prestes a dar para a minha família uma vida de conforto depois de tanto sofrimento...

É Assim Que a Banda TocaOnde histórias criam vida. Descubra agora