I hate my ordinary life

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Sabina Hidalgo P.O.V

2016, Miami, Florida

— Acorde gatinha, ou então vai chegar atrasada na escola. — Mãos passam em meus cabelos, os acariciando. Com certeza é o papai. Ninguém me chama de gatinha a não ser ele.

— Upf. — Resmungo, cheia de sono, abrindo meus olhos devagar e vendo o meu pai sentado em minha cama, sorrindo. Tão bem humorado...

— Você tem aula hoje, gatinha. Já são 6:45. — Levanto minha cabeça do travesseiro, meus cabelos estão um ninho de ratos e meu rosto amassado. Somente meu pai, Fernando, consegue me chamar de gatinha quando pareço um Frankenstein.

— Dia. — Resmungo, coçando meus olhos. Papai ri e dá tapinhas em meu braço.

— Levante, tome banho, e desça logo. Josh disse que passa aqui daqui uns 30 minutos. — E sai do quarto, mas antes, abrindo as cortinas blecaute, fazendo a luz solar ir em meus olhos.

— Detesto ir pra escola. — Resmungo, levantando da cama e olhando para minhas calças de pijama. Argh, ereção matinal.

Pois é, eu disse isso mesmo.

Sou uma garota com ereções matinais. Algo bem normal para quem tem um pênis. Eu sou intersexual sabem? Nasci com cromossomos masculinos em meio aos meus femininos, me fazendo ter diferenças genéticas em relação as outras garotas. Tenho essa coisa que balança no meio de minhas pernas.

Aí a maioria pensa: "nossa que foda, você deve amar isso, e comer todas as menininhas."

Não!

Outra vez, não!

Eu detesto ter um pau, e não como garotas, porque não sei se sabem, mas a vida não é um mar de flores. Ainda mais para pessoas que têm diferenças genéticas. As garotas héteros me abominam. As lésbicas também. Resumo: sou uma fodida da vida virgem. Ando até o banheiro, pegando minha toalha e enfiando meu corpo debaixo d'água.  Ajuda a despertar. Como uma escola normal, temos que usar o uniforme. Um horror pra mim, se querem saber. São saias pretas nos joelhos, uma camisa azul, mais uma gravata preta e um blazer. Por eu ser meio garoto, meu pai preferiu comprar o uniforme deles, que era calça comprida preta e mais as outras peças. Elas me dão calor. Muito. Eu moro na Flórida, pelo o amor de deus, e faz muito calor o tempo todo.

Minha bunda sempre fica suada. Sempre.

— Está linda, gatinha. — Papai brinca ao me ver na mesa do café da manhã, usando o uniforme "calor do demônio", com os cabelos soltos e uma cara de merda.

— Mentir é feio, pai. — Lhe respondo, sentando em sua frente e ganhando um sorriso simpático. Dorota, nossa governanta, e quase uma mãe pra mim, surge trazendo meu achocolatado e um beijo nas bochechas.


— Bom dia, menina Sabina. — Fala, alisando meus cabelos carinhosamente. Dorota é uma senhora de 53 anos que trabalha aqui desde os meus primeiros meses de vida.

— Oi, Dora. — Pisco, entornando minha bebida na garganta. Pego um waffle, colocando bastante calda de morango em cima e o atacando. Tenho um apetite voraz de manhã.


— Como vai seus amigos, gatinha? Não vejo Savannah, Angie e Josh, há um bom tempo. — Meu pai sempre conversava comigo, querendo interagir com a minha vida, e acho isso lindo, mas não faz eu me sentir normal.

Porque eu não sou.

— Humm... Savannah vai bem. Está de rolo com uma tal de Any aí, mas ainda não nos apresentou a garota. Josh continua na mesma, ficando com uns caras e viciado em Coca-Cola. E Angie está bem. Ela e Maci estão fazendo uns, sei lá, 7 meses de namoro.

My Sexy Listener | Joalina | Sabina G!POnde histórias criam vida. Descubra agora