Copacabana 6:10 AM
POV: Larissa
É exatamente 6:10 da manhã e aqui estou eu, sentada em um pano na areia da praia sentindo a brisa gelada em meu rosto e ouvindo o barulho das ondas.
Ontem fez 2 anos que minha mãe morreu. Ela era pessoa mais incrível que eu já conheci. Seu carisma era admirado por qualquer pessoa que tivesse o mínimo de aproximação a ela. Ela movia céus e terra só pra ver quem amava feliz. Me orgulho de falar que sou Filha da Sra. Machado.
2020, na noite do meu aniversário, minha mãe saiu para comprar o meu presente enquanto eu, Papai, Melissa e Renan fazíamos o bolo e enfeitamos a mesa. Mamãe sempre dizia que sempre temos que comemorar o aniversário. Não importa a idade, sempre tinha que ter bolo, bexigas, presentes e no final da noite, sempre um filme em família. Sempre foi assim em todos os aniversários e eu amava.
Já estava tudo pronto, só estavamos esperando por ela. Papai e Renan estavam na sala assistindo futebol e Eu e Melissa estávamos na cozinha brincando de jogar o balão uma pra outra.
Depois de uns 20 minutos a campainha tocou. Eu fui correndo abrir a porta e dizer pra mamãe que a decoração estava perfeita e que ela precisava ver. Abri a porta sorrindo e tudo que tive ali foram dois policiais me encarando, meu sorriso sumiu. Eles olharam pra minha blusa escrita "É meu Aniversário", se entreolharam e logo abaixaram a cabeça. Foi bem ali que eu entendi tudo.
Meu mundo desabou. Tudo que parecia fazer sentido não fazia mais. Tudo que eu amava fazer se tornou irrevelante. A insônia era minha melhor amiga. Comer e levantar da cama já não parecia mais uma obrigação. Não tinha mais amigos. Não queria ver ninguém. Não tinha vontade de fazer absolutamente nada além de chorar na cama enquanto o pensamento de culpa rondava minha cabeça.
Cerca de 1 mês após a morte dela, descobri que eu estava com depressão. Tive o apoio dos meus irmãos e principalmente do meu pai, que claramente era o melhor mentalmente entre todos nós. Meu pai foi um Anjo naquela época, até hoje vem se mostrando um pai incrível e fazendo de tudo pra nos ver sorrindo. Não sei o que seria de mim e dos meus irmãos sem ele.
Sempre que sinto saudades da mamãe eu venho aqui. Ela adorava esse lugar e principalmente ver o nascer do sol. Sempre que possível ela estava aqui. E se sentava neste exato lugar onde estou sentada. Acredito que seu momento favorito da semana era trazer Eu, Melissa e Renan pra nadar e coletar conchas.
Sinto que depois da morte dela nós ficamos distantes, mesmo morando na mesma casa. Sinto falta dos momentos felizes de antes e acho que eles também sentem.
Meus pensamentos sumiram quando olhei pra trás e avistei uma garota loira caminhando em direção ao mar. Ela tinha o olhar disperso, perdido... estava com um moletom rosa claro, uma calça preta e um tenis branco.
Bem estranho, pois ali era uma praia e os tênis iriam ficar marrons. Ela carregava dois baldes e duas varas de pescar. Achei muito estranho, pois ela não tinha cara de quem pescava, devia estar esperando alguém ou sei lá. Me coloquei a observa-la, já que era a única pessoa perto aquela hora.
Ela não ficou tão distante de mim, ficou mais a frente. Colocou os baldes no chão e os acessórios ao lado. Passava a mão pelos cabelos longos e no rosto enquanto analisa-va o nascer do sol que acabara de acontecer. Consegui observar seu rosto quando ela se virou por alguns segundos, não carregava uma cara muito boa. Devia estar num dia ruim, como eu.
Balancei a cabeça voltando pra realidade quando percebi que estava olhando demais pra ela. Comecei a observar o nascer do sol também, ja que era pra isso que eu tinha acordado tão cedo naquele dia.
Ohana: É tão lindo né? - sua voz rouca me fez sair do transe, olhei pra ela que sorria de canto enquanto me olhava
Larissa: Muito. As vezes vale a pena acordar cedo só pra ver isso. - ela assentiu voltando a atenção pro sol e eu fiz o mesmo.
Uma brisa gelada bateu. O ruim da praia de manhã era esse, o vento vinha sem dó. Depois de um tempo olhei em volta e não avistei ninguém, e ela não parecia esperar alguém. Não é possível que ela gostava mesmo de pescar.
Larissa: Você 'tá sozinha? - questionei e ela assentiu, parecia um pouco tímida. Uma brisa gelada bateu novamente e a vi colocar as mãos dentro do bolso do moletom e se encolher. Ainda de pé.
Larissa: - Ei, pode sentar aqui se quiser. - Bati a mão ao lugar que sobrava ao meu lado. - Tem cobertor aqui. - Apontei pro cobertor que cobria minhas pernas.
Ohana: -Tem certeza? Não vai te incomodar? - ela questionou e eu balancei a cabeça, dizendo que não.
Ela sorriu fraco e caminhou até mim, se sentando ao meu lado cruzando as pernas. Dividi o cobertor entre suas pernas e as minhas e voltamos a observar a vista. Eu não fazia idéia do porque eu estava fazendo isso. Ultimamente eu não costumava a me importar com as pessoas. Algo nela me chamava atenção, eu só não sabia o que.
Larissa: Você tem bom gosto com perfumes. Dá pra sentir o cheiro forte daqui. Qual é o segredo? - ela me olhou rindo e logo abaixou a cabeça e eu sorri fraco. - 'To falando sério, me conta vai qual é o segredo?
Ohana: Não posso. Se eu te contar o segredo, ele não vai ser mais um segredo. - Eu soltei um "Aff" e revirei os olhos, fingindo frustação e ela riu.
Ouvi uma voz muito irritada atrás de nós, uma moça que aparentava ter meia idade caminhava até nós com uma cara furiosa.
(X): - Ohana, eu não acredito no que estou vendo.
A senhora gritou e eu não estava entendendo nada. Olhei pra menina ao meu lado e seu rosto que antes sorria, agora se tornava amedontrado e assustado.
Ela se levantou rapidamente e deu passos pro lado, se afastando de mim. Pude ver seus lábios tremerem e a respiração falhar. Quem caralhos era aquela mulher gritando?
Ohana: Mamãe eu posso explicar. - Ela falou com a voz tremula, já estava desesperada antes mesmo da mulher chegar perto dela.
Agora as coisas estavam fazendo sentido. Eram mãe e filha. Eu só não estava entendendo o por que de tanto medo da menina que agora eu sabia o nome. Era "Ohana".