POV: Ohana
Eu esperei infinitos dias para aquele momento. Eu estava conseguindo seguir meu sonho e finalmente eu iria sair daquele inferno que eu chamava de casa. O dinheiro que eu estava juntando durante os últimos anos agora era o suficiente para que eu me mantesse sozinha e agora com o emprego seria tudo mais fácil.
Eu estava tão feliz e ja tinha perdido as contas de quantas vezes eu já tinha chorado. Eu iria me livrar dos xingamentos diários dos meus pais e iria parar de pescar aqueles peixes miseráveis. Com todo respeito aos peixes é claro. Mas eu tinha pegado tanto ódio deles.
Minha família sempre teve a tradição de que todo filho mais velho tinha que pescar para os pais venderem e sinceramente que tradição lixo. Pescar peixes é sério isso? Era uma tradição muito besta. Passei minha infância inteira pescando e eu odiava isso. Meu pai levava essa baboseira muito a sério e me obrigava a pescar todos os dias. Eu sempre tinha que acordar sorrindo e feliz, caso ao contrário ele me batia. Ele me batia por absolutamente tudo. Muitas das vezes eu ficava doente e ele me batia por não ser capaz de ir buscar os peixes. Eu tinha marcas no corpo inteiro por causa disso. Agora isso iria mudar já que eu tinha feito 18 anos e já poderia morar sozinha.
Todas as famílias ja tinham ido embora e Larissa agora me esperava do lado de fora no estacionamento, ela insistiu em me esperar. Eu, Letícia e Bruno tivemos que ficar até mais tarde para assinarmos alguns papéis e ouvir algumas normas, eu estava feliz por eles também.
Conheci Letícia em uma das aulas que eu fui ano passado e desde então viramos amigas. Ela foi incrível e me ajudou muito a não desistir da dança. Temos outro amigo também, Lukas Oliveira. Eles eram meus melhores amigos. Acho que nossa amizade fortaleceu porque nós três compartilhavamos os mesmos neurônios, eramos o trio "tá maluka".
Já o Bruno eu conheci ali mesmo, ele era um cara legal mas dava em cima de mim o tempo inteiro e eu já estava ficando irritada. Ele é bonito e eu até namoraria com ele, mas odeio atitudes assim. Pra mim, tem que conhecer a pessoa primeiro antes de fazer essas coisas, ele forçava uma intimidade que nem tinhamos.
Estavamos em um escritório que tinha lá no estúdio, já tinhamos assinado milhões de papéis e agora Dani estava nos dando dicas e explicando sobre responsabilidade, ter paciência e compreensão, até porque iriamos trabalhar com pessoas. Assinamos o último papel, o mais importante de todos, o contrato.
Dani: - Prontinho, agora vocês já podem começar a dar aulas profissionais. Parabéns pessoal, estou feliz por vocês. - ela disse sorrindo e estendeu a mão até nós dando um breve aperto. - Estão liberados, podem ir e tenham uma boa sorte.
Assim que saímos do escritório, voltamos ao grande salão e comemoramos pulando e gritando. Letícia pegou o celular e ligou pra mãe dela que não pôde vir porque estava no trabalho. Bruno não parava de falar "Tá Maluka." Inevitavelmente ele também viciou em falar isso.
Aliya caminhou até nós e ela estava emocionada pois acompanhou todos nós desde o início. Ela além de ser uma profissional impecável era um ser humano incrível, estava sempre disponível pra nos ouvir e dar conselhos. Ela era como uma mãe pra mim, sempre me apoiava e me motivava a continuar e a não desistir. Agora ela estava nos parabenizando e eu já estava chorando outra vez, eu era tão sensível.
Depois de Aliya nos falar belas palavras, ela estava apagando as luzes do estúdio, já estávamos indo embora. Bruno e Letícia estavam mais a frente enquanto eu caminhava mais atrás com Aliya. Ela estava me encorajando a conversar com meus pais, já que eu iria sair de casa. Mas eu não fazia a mínima idéia de como eu iria fazer isso e nem de como seria a reação deles.