17:45POV: Larissa
Cheguei em casa após a leve caminhada da casa de Ohana até a minha. Percebi que preciso urgentemente voltar a correr, só fiz uma caminhada e parece que eu corri uma maratona.
Antes de entrar em casa, olhei pra garagem e vi que só o carro de Melissa estava. O carro de papai não estava lá, provavelmente ele e Renan tinham saído juntos. Entrei em casa, tirei os tênis e caminhei pra cozinha em busca de água. A casa estava parcialmente escura, só com as luzes básicas acesas e sem muita iluminação.
Chegando na cozinha me deparei com Melissa apoiada no balcão, ela respirava descompassado e tinha o rosto banhado em lágrimas. Tinha milhares de remédios espalhados pelo chão e em cima da bancada onde ela estava apoiada. Ela tentava abrir um dos remédios enquanto suas mãos tremiam como se fosse uma batedeira. Corri apressada até ela, peguei o remédio certo e sua garrafa de água. Coloquei o comprimido em sua boca e levei a garrafa até seus lábios a fazendo engolir.
Larissa: Que susto Melissa... porque você não me ligou? Você sabe que eu viria o mais rápido possível.
Sua reação foi se jogar em meus braços, a envolvi em um abraço forte enquanto acariciava sua nuca, minha mão livre alisava suas costas. Seu rosto estava na curvatura do meu pescoço enquanto eu sentia sua respiração totalmente fora de ordem e suas lagrimas molharem a região.
Melissa: Eu não aguento mais. Até quando isso vai durar? Eu estou tão cansada Lari..
Aquilo me destruiu por dentro. Eu odiava ve-la assim neste estado. Melissa só tinha 17 anos. Renan tinha 16 e eu tinha acabado de fazer 19. Eu como a irmã mais velha deveria estar cuidando deles, mas eu estava falhando, e eu não queria falhar. Melissa costumava ter crises quando sentia falta da mamãe, mas nenhuma delas foi tão forte igual a essa. Aquilo me preocupou.
[...]
Liguei pro papai e contei o que tinha acontecido, ele não deu tanta importância e disse que era "normal" já que ela já teve outras crises. Ele estava apressado. Provavelmente ele estava assistindo a um jogo de futebol com Renan. Pude ouvir os gritos dele no fundo xingando o juiz. Ele apenas disse pra mim cuidar dela, por que provavelmente iriam chegar tarde naquela noite e que ela precisava de mim. Eu desliguei quando percebi que falava sozinha.
Papai tinha doado toda sua atenção pra Renan nos últimos meses. Eu não achava ruim, já que ele era o mais novo e precisava de muito mais da sua atenção. Porém Eu e Melissa sempre ficávamos de lado. Eles sempre estavam saindo juntos e não nos chamava. Sempre diziam a mesma coisa. "É um lugar só para meninos" e saiam. Aquilo me deixava um pouco enciumada, mas eu tentava não ligar. Afinal, ficar em casa com Melissa não era tão entediante.
Fui até a cozinha e encontrei o Sr. Ofélio, era o mordomo da nossa casa. Nós adorávamos ele. Tinha também a Tia Marina, era um amor de pessoa e meio atrapalhada as vezes. Mas tinha os melhores conselhos. Ela e Ofélio revezavam os horários lá em casa.
Ele estava retirando os comprimidos espalhados pelo chão e tinha uma feição preocupada. Quando a crise de Melissa aconteceu ele não estava em casa. Estava no mercado fazendo compras.
Ofélio: Ela está melhor Lari? - questionou e eu assenti breve. Sussurrei um "vai ficar" e ele sorriu de canto
Decidi fazer brigadeiro e pipoca, eu iria convencer Melissa a assistir algum desenho bobo comigo. Enquanto esfriava eu ajudava Ofélio na cozinha.
Depois de alguns minutos, caminhei até a sala e ela estava deitada no sofá, coberta e encolhida. Fechei as cortinas, liguei as luzes fracas e me sentei ao seu lado. Toquei sua perna e ela me olhou confusa.
Larissa: Quer assistir Toy Story pela milésima vez comigo? - Fiz uma cara de cachorro pidão e ela soltou um sorrisinho - Por favorzinho, fiz até brigadeiro pra gente.
Ela ainda sem dizer nada, assentiu e se sentou direito, eu comemorei internamente. Coloquei o balde de pipoca e o brigadeiro entre nós duas e dei play no filme.
Menos da metade do filme ela já estava sonolenta e quase dormindo sentada. Era o efeito do remédio. Afastei as coisas pro lado, peguei um travesseiro e coloquei no meu colo. Dei dois tapinhas induzindo ela a deitar. E assim ela fez. Comecei um cafuné leve enquanto voltava a dar atenção ao filme.
O filme acabou e Melissa ainda dormia pesado. Eu fiquei ali ainda no sofá olhando pros quadros na parede. Me lembrei de Ohana e de que eu tinha pedido pra ela me mandar mensagem se algo acontecesse. Me estiquei pra alcançar o celular e de fato tinha mensagem da loira.
Agradeci mentalmente por estar tudo bem e suspirei aliviada. Ela estava indo pra aula de dança. Era realmente muito importante pra ela. Acho que por mensagem ela tem que manter o personagem. Talvez os pais mexessem no celular dela ou algo assim. Depois do que eu presenciei na praia não duvido de mais nada vindo deles. Joguei o celular pro lado e dividi o cobertor com Melissa. Acabei pegando no sono ali mesmo.