Cansada da estupidez humana e em particular da sua terapeuta, Marília resolveu que hoje seria o dia da vingança.
Todas as quartas às 11, invariavelmente mal vestida pra reforçar sua depressão e fazer valer cada centavo de sua investida lacaniana. Mas dessa vez não. Impecavelmente vestida, só achou que exagerou no Chanel nº5 mas já era tarde para arrependimentos.
Eleadora era uma senhora notável em sua profissão. Psiquiatra renomada, foi recomendada para a Marília por meio de exaustiva pesquisa entre amigos em comum. Antes submissa aos protocolos, dessa vez chegou “chutando a porta”; iniciou os trabalhos falando mal da roupa da profissional para não deixar dúvida do que viera fazer no consultório.
Qual não foi sua surpresa quando “Dora” abriu um largo sorriso e exclamou: “Finalmente!! Sua apatia já estava me cansando! Iniciaremos hoje uma nova era em nossas conversas”. E iniciou a sessão como se nada tivesse ocorrido. A paciente nem sequer piscava, pasma que ficou com a reviravolta abrupta de suas intenções.
Marília não esperou sequer o café tradicionalmente oferecido e retirou-se.
Chegou à conclusão que não valia nada mesmo. Todos poderiam manipulá-la. Até Eleadora. Lembrou-se da tequila envelhecida comprada em Tijuana e decidiu que esse tipo de “terapia” seria mais eficaz neste momento.