Tiago sentiu-se novamente só. Nada nem ninguém poderia ajudá-lo naquele momento. Como recusar um convite, ou melhor, uma convocação daquela? Sentiu-se importante e não saberia dizer o porque do chamado nem o que faria para ajudar ou como seria útil. Mas sentia-se parte do povo Basco. Era um exilado sem nunca ter sido. Um exilado da vida. Via sentido agora em todos esses anos de solidão, esquisitices e sofrimento. Tudo agora se encaixava perfeitamente. O sentido da vida, esse tão aclamado e utópico sonho da humanidade que é ter um significado em viver. Uma missão de vida.
A única peça que não se encaixava agora era Marília. Nunca imaginou amar alguém muito menos ser amado assim. Julgava-se incapaz de ter tão nobre sentimento. Mas tudo virou do avesso com ela. Estava se achando até mais bonito. Surpreendeu-se certa vez quando cantou baixinho para ela e ouviu elogios sobre sua voz e ritmo. Depois daquele dia suas tardes de amor eram acompanhadas de melodias cantaroladas por ele, muitas vezes em meio 'as lágrimas de ambos.
Tiago tinha a certeza que encontrara a felicidade com ela e por ela, não havia dúvidas em relação a isso. Mas diante da pergunta de Dom Rubens sentiu-se fraco novamente, uma alma penada num mundo sombrio e cruel. Como explicar ao fascínora seu encanto pela região tão questionada e odiada pela maioria dos espanhóis e especialmente por ele, com seu histórico de oposição ferrenha 'as tentativas de independência basca? Tinha certeza que Marília não o apoiaria e muito menos iria segui-lo nessa jornada rumo ao novo e ao desconhecido. Sabia que ela simplesmente não conseguiria enfrentar o pai. E aceitaria a decisão dela.
Nada argumentou com o ex futuro sogro. Simplesmente olhou para a amada com uma feição de despedida característica dos derrotados e disse: “Tenho uma missão de vida a cumprir. Adeus e desculpem-me”.
A caminho do aeroporto, Roberto Carlos lhe dava razão no rádio do táxi:
“Já está chegando a hora de ir
Venho aqui me despedir e dizer
Em qualquer lugar por onde eu andar
Vou lembrar de você
Só me resta agora dizer adeus
E depois o meu caminho seguir
O meu coração aqui vou deixar
Não ligue se acaso eu chorar
Mas agora adeus
Só me resta agora dizer adeus
E depois o meu caminho seguir
O meu coração aqui vou deixar
Não ligue se acaso eu chorar mas agora adeus”