Dom Rubens já sabia que a situação em sua terra natal não era boa. Falha na segurança no Palácio Real era tudo que a coroa espanhola não desejava em tempos de baixa popularidade. Desde a descoberta que o Rei Juan Carlos caçou elefantes na África com dinheiro público todo cuidado era pouco para não manchar mais a imagem real. E com o governo do Partido Popular a situação era ainda pior: desemprego em níveis recordes e taxa de crescimento econômico pífia fizeram da Espanha um país em crise contínua e imprensa vigilante.
Quando o ministro da justiça se colocou a par dos acontecimentos logo ficou estarrecido com o motivo da busca frenética a dois supostos terroristas: por razões passionais um ex cônsul espanhol no Brasil iniciou a perseguição a uma senhora cujo crime já havia sido proscrito pela leis espanholas e a um rapaz que nem espanhol era e cujo delito era organizar a militância jovem do país basco. E mais indignado ficou ao saber da influência de Dom Rubens na polícia secreta espanhola em se tratando de assuntos de segurança nacional.
Sem saber da reviravolta que estava prestes a acontecer Rubens partiu para Madri com a certeza que seria considerado um herói por tentar livrar a nação de elementos perigosos 'a sociedade castelhana.
Dora por sua vez já ciente da posição do ministro pelos jornais se surpreendeu pelo fato de não conhecer a legislação espanhola, justamente ela considerada tão culta. “Tantos anos fugindo de mim mesma 'a toa?” pensou em tom jocoso. Mas sabia que a sede de vingança de seu ex companheiro não acabaria por ali. E ainda se sentia responsável por Tiago que certamente seria preso pelo episódio com o chefe de segurança dias atrás.
Assim que Rubens desembarcou na capital espanhola foi detido e encaminhado diretamente 'a sede da polícia secreta onde o ministro o aguardava. Com modus operandi da época franquista o cônsul não entendia o motivo de tanto alarde com sua conduta. Há trinta anos vinha colaborando não só com o governo espanhol mas com todas as ditaduras latino americanas na delação e captura de “elementos perigosos” aos interesses governistas.
Mas o tempo se encarregou de mudar as coisas e apenas ele não havia notado. Tentou desde o desembarque mostrar sua influência nos bastidores resistindo 'a detenção e bradando palavras de baixo calão aos policiais. Nem mesmo com o ministro se conteve. Chamando-o de “cabrón” aos berros só acalmou-se quando fora alertado que seria encaminhado para a prisão por utilizar de influência política para atos de governo. Quem era aquele ministrozinho de merda para dizer o que ele deveria fazer ou deixar de fazer? “Se Franco estivesse vivo...’’ rosnava o velho. Só precisava de um telefonema antes de ser interrogado e foi atendido. Mas ao invés de um advogado como seria razoável supor, ligou para um velho amigo para resolver “um assunto de extrema urgência”.
-Ya que no puedo contar con la policía secreta, te necesito para capturar y matar a tres personas. Uno de ellos es mi hija. Hazlo sin dudarlo. (Já que não posso contar com a polícia secreta, necessito que capture e mate três pessoas. Uma dela é minha filha. Faça sem hesitar.)
E assim Dom Rubens completou seu ciclo de empáfia e crueldade que só foi amenizado no período em que viveu com Eleadora.