“Bom dia companheira de luta”.
Eleadora não ouvia esse cumprimento há décadas. Desde 1962 na verdade, quando decidiu mudar de vida. Nascida Gechina Perugorria, Dora foi fundadora do ETA (Pátria Basca e Liberdade), organização que luta pela independência do pais Basco da Espanha e França. Após o atentado no trem que transportava políticos espanhóis em 1961 percebeu que a violência não seria a solução desejada e tomou a difícil decisão. O Brasil foi seu destino natural. Aproveitou que seu irmão mais novo viria a trabalho na recém criada indústria automobilística nacional e fez da pouca idade dele a desculpa perfeita para acompanhá-lo.
Optou por São Paulo, formou-se médica psiquiatra e fez carreira como conceituada terapeuta. E nunca mais voltou a falar a língua mãe. Quando Gechina, ou melhor, Eleadora viu aquele rapaz com aparência peculiar portando uma camiseta com a célebre frase de Victor Hugo achou curioso mas relevou. Até ouvir o que era como um mantra, um rito diário em seu tempo de militante “etarra”. Soou estranho, seus ouvidos até doeram por um instante mas, após 1 hora de calorosa conversa em basco com o surpreendente paciente, decidiu: precisava voltar 'as origens. Abraçou Tiago intensamente como um filho que nunca tivera, avisou sua secretária Helen para desmarcar todos os seus compromissos e partiu, decidida a parar de sublimar seus sentimentos.
Tiago, feliz com sua nova amiga, ficou conversando amenidades com Helen antes de partir quando se assustou com a entrada repentina de uma mulher gritando aos prantos pelo nome da psiquiatra. Marília estava irreconhecível. Mas não para Tiago. Nunca vira algo tão belo em toda sua vida.