Capítulo 17- A Fuga

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   Gechina percebeu que algo estava errado mesmo estando na ala oposta ao ocorrido; outros guias murmuravam que houvera uma confusão no setor leste com um dos funcionários e que a guarda havia efetuado prisões. De imediato tratou de sair do recinto antes que algo pior acontecesse. Sua intuição dizia que Tiago estava envolvido e que não poderia ajudar. Se ele estivesse bem haveria o contato posteriormente.

   Mas Tiago não estava bem. Atordoado com a maneira que os fatos aconteceram via no semblante de Marília a certeza do vacilo em sua atitude intempestiva. Na central de segurança do Palácio foram submetidos a perguntas de praxe. Marília evocou seus tempos de atriz amadora e atribuiu seus atos 'a paixão e saudades avassaladoras, fatos que não deixavam de ser verdade. Pensou em usar a influência de seu pai mas sabia que o risco era excessivo; afinal era por ele que estavam ali sendo interrogados. Sua cidadania espanhola e seu passaporte diplomático seriam um trunfo ou uma arma?

      Na sala do interrogatório o lema da corporação: “Por España, todo por España”. Fernando Agirre, o sargento responsável pelo turno vespertino ouvia pacientemente as explicações com um sorriso lateral. De família basca mas vivendo em Madri desde a infância não tinha qualquer ligação com a região de origem exceto por alguns parentes distantes e por sua paixão reprimida pelo Athletic Bilbao. Tampouco era contra as manifestações de independência do país basco, simplesmente não tinha opinião sobre o assunto. Tinha sim o senso da responsabilidade a que fora destinado que era proteger a família real e suas propriedades e o tumulto causado pelo casal o incomodou em demasia.

   Ao escanear os documentos do guia Luis Abelló imediatamente sua foto apareceu no cadastro de terroristas procurados pela Interpol: “Tiago Cunha de Almeida-buscado en relación con la ETA. Acompañado por Gechina Perugorría, fundadora de la organización. Detención inmediata. Capturarlos vivos o muertos (“Tiago Cunha de Almeida, procurado por ligações com o ETA. Acompanhado de Gechina Perugorria, fundadora da organização. Prisão imediata. Capturem-os vivos ou mortos”). Tiago percebeu o olhar inquieto do comandante e fez o improvável: em pé, jogou a cadeira vazia que estava a sua frente contra Fernando, puxou Marília pelo braço e correram pelo vasto corredor do prédio misturando-se 'as centenas de turistas que diariamente visitam o local. Com um corte na face, o sargento disparou o alarme de segurança e imediatamente correu atrás dos fugitivos pensando que certamente seria punido se deixasse escapar o que seria seu troféu e quiçá sua promoção: capturar um “etarra”.

   Por sorte estavam perto de uma das saídas e logo avistaram a ampla área com piso decorado da entrada principal. Tentaram disfarçar a ansiedade e saíram calmamente pelo imponente portão de cinco metros de altura sem grandes dificuldades. Em minutos estavam longe dali. Fernando nada pode fazer.

   Ciente da preocupação de Dora, Tiago fez contato pouco depois dizendo que estava com Marília e que tinham escapado mas que a agressão a um membro da guarda real certamente complicaria a situação a partir daquele momento. Pediu para que ela deixasse a pousada por segurança e que se encontrassem no Museo del Jamón, bar típico da capital para traçarem um plano de ação.

   Eleadora sabia que o cerco se fechara e só havia uma coisa a ser feita: falar com Rubens. Somente ele poderia reverter a ordem de captura. 

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