Em mais uma residência provisória Tiago planejava o modo de se entregar 'a justiça espanhola. Gechina já o havia alertado que o Ministro da Justiça não os via como terroristas uma vez que nada havia contra eles 'a exceção de identidade falsa e a simpatia pela causa basca; pela agressão ao chefe de segurança do Palácio Real certamente seria julgado mas tinha a confiança numa pena branda.
Queria ter a certeza que deixaria “suas mulheres” em segurança o que ainda não estava muito claro. Deveriam voltar ao Brasil? Aguardariam seu julgamento? Dora seria julgada por posse de documentos falsos? Marília já providenciara advogados para defendê-los porém ela própria desconhecia os detalhes da legislação espanhola. Todos concordaram que a permanência no país era o certo a ser feito.
Definida a estratégia de defesa foram surpreendidos por uma ligação da alta cúpula do ETA com a recomendação de cautela nos depoimentos que certamente haveriam de dar para o judiciário espanhol. Foram alertados também sobre uma mudança de planos da causa basca. Tentariam a negociação de independência de forma pacífica; queriam aproveitar a Aberri Eguna (dia da pátria basca) para fazer um comunicado aos espanhóis. Dora ficou radiante. Há décadas sabia que a saída era essa, que o poder das armas não iria suplantar a diplomacia. Sentia-se cansada, fruto da idade e de tantas articulações e os recentes acontecimentos, mas realizada com uma vida dedicada a uma causa que outrora julgou perdida.
Os três decidiram que deveriam relaxar um pouco, deixariam as discussões jurídicas para o dia seguinte; queriam comemorar o novo rumo que certamente os bascos viveriam dali pra frente. Marília pegou seu sobretudo e quando preparavam-se para sair foram surpreendidos por estilhaços de vidros, num som ensurdecedor de rajadas de metralhadoras provenientes da rua; Tiago imediatamente levou sua amada ao chão porém não avistou Dora. Durante intermináveis 2 minutos a casa simples que alugaram dias antes transformou-se em ruínas. Imediatamente percebeu Marília inconsciente e sangrando muito na região abdominal; com dificuldade desvencilhou-se do móvel que caíra sobre suas pernas e verificou os sinais vitais da advogada. Estava viva. Procurou pela psiquiatra e percebeu que estava caída, imóvel no quarto ao lado.
Tiago não se conteve e gritou:
- DOM RUBENS EU VOU TE MATAR SEU FILHO DA PUTA!