Capítulo 15- A Busca

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   Como encontrar pessoas procuradas pela Interpol? Com essa pergunta Marília ficou sem dormir as 12 horas de voo até a capital espanhola e mais a conexão até Bilbao. Sentia-se uma aventureira em busca de algo desconhecido, raro, um Graal; afinal era o homem que amava e já havia cometido o erro de abandoná-lo antes, não seria estúpida em repeti-lo. Nem que para isso abdicasse de seu pai, sua profissão, seu país.

   Pensou muito na relação entre Dora e Rubens, o pouco que soube naquele dossiê com fotos, cartas apaixonadas e juras de amor eterno e por um instante viu seu pai humano, sem aquele rigor militar e isso a entristeceu. Como pode agora ele pedir a cabeça da mulher que supostamente amou tanto? Não entendia tanto ressentimento por questões político-ideológicas. Em seu tempo de faculdade conviveu com pseudo radicais, militantes da hora do almoço cujos interesses claramente eram factóides com o objetivo de faltar 'as aulas. Também conheceu verdadeiros engajados que muitas vezes abriram mão de sua vida privada em nome de uma “causa maior”. Mas nada se comparava ao determinismo de Dom Rubens.

   O franquismo já era passado, a Espanha supostamente estava em uma era democrática e ainda que combatessem o terrorismo, viam na autonomia das comunidades uma forma de agradar a maioria. Estas tinham sua cultura, línguas, histórias e tradições respeitadas mas ao mesmo tempo deviam respeito 'a unidade nacional. Mas seu pai nem com isso concordava; achava um absurdo permitir o ensino dos “dialetos” nas escolas, fosse basca, catalã ou galega; julgava que isso fomentava o interesse dos jovens, sobretudo esses, em conhecer o passado local e com isso querer desvincular as regiões do país.

   Já em solo basco procurou pelo óbvio, a sede do Batasuna, em busca de informações tanto de Dora como de Tiago. Sem nenhuma surpresa foi impedida de entrar uma vez que a notícia da procura de ambos já se espalhara pela cidade e todo cuidado seria pouco. Nada que dissesse, nem que ela fora a origem do alerta bastaria para eles.

  Concluiu que deveria usar mais a razão que a emoção para encontrá-los. Fosse ela, onde se esconderia? E lembrou-se dos sermões do pai sobre espionagem, inteligência e contra-inteligência: “para fugir dos inimigos, torne-se um deles”.

   Marília rumou a Madri com a certeza que estariam lá.

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