Eleadora surpreendeu-se com a idolatria que passara a presenciar no comitê da juventude do Batasuna. Expressões de espanto, admiração e até tietagem começaram a fazer parte de sua nova rotina. Jovens sonhadores, ideólogos, saudosistas, enfim, todas as vertentes de uma nova geração perdida, assolada pelo desemprego e pela repressão política. Convidada a dar palestras, sentiu-se renovada com a possibilidade de mostrar sua história de vida e de lutas por um país independente. A histórica declaração do ETA em abandonar a luta armada em 2011 para Dora era mais que uma coincidência. Era a oportunidade de demonstrar a todos os bascos que ela estava certa em seu exílio voluntário; não poderia ser cúmplice do massacre de pessoas, civis ou não, envolvidos ou não. Nunca aceitou o argumento dos líderes que só atacariam militares. Julgava que começar um projeto de independência desta maneira justificaria uma escalada ditatorial, algo oposto ao seu ideal de democracia.
Em poucos dias estava discursando na Euskal Herriko Unibertsitatea, a universidade local. Num ambiente mais amplo, discursou com visões distintas sobre o conceito de independência, suas vantagens e desvantagens, os métodos, as críticas, enfim. Em poucas semanas foi nomeada “doutora honoris causa”,com direito a uma festa digna de grandes personalidades.
Passada a euforia das primeiras semanas Dora, introspectiva, repensou sua longa vida, suas nuances e mudanças tão doces quanto drásticas. E a imagem sublime de Tiago veio-lhe 'a mente, com sua simpatia sui-generis, sua capacidade em ser ao mesmo tempo simples e complexo, do jeito que todo terapeuta gosta.
Sentiu uma urgência em falar-lhe. Em contar as novidades, em agradecer-lhe por trazer sua vida de volta.