Marília precisava reagir. Mas, atônita, catatônica, entregue a sua própria covardia, permaneceu trancada em casa por dias. Sem Lolita, Tiago ou Dora. O sentimento de impotência era evidente; situações como essa de saber o que se deve fazer e não fazê-lo, saber o que é o certo, o melhor para si e permanecer na mesma. Na mesma merda de vida. Havia um bloqueio claro em relação ao seu pai, não conseguia se desvencilhar, soltar as amarras de sua prisão particular.
E porque disso tudo? Porque não seguiu Tiago em seu sonho de liberdade? Que satisfação devia ao velho espanhol? Que elo misterioso os unia além da paternidade? Marília não tinha respostas, só perguntas. Muitas perguntas.
Dom Rubens não satisfeito com a obediência cega de sua filha entrou em contato com o serviço secreto espanhol, prática comum em seu período de cônsul. Espionagem, contraespionagem, delações, investigações de inocentes, heranças do franquismo que permaneciam até os dias atuais sempre com o fácil argumento do combate ao terrorismo. Forneceu os dados que conseguiu obter sobre Tiago e pediu atenção máxima ao que chamou de “ameaça 'a unidade espanhola”. E fez uma ressalva: “ Capturem Gechina Perugorria”.
E ao dizer o nome dela após tantos anos não pode conter as lágrimas em seu rosto rude.