Capítulo 1

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William estava sozinho em seu escritório cuidando da contabilidade,  quando o mordomo surgiu anunciando que tinha uma mulher na sala querendo conversar com seu irmão Henry. Uma ruga se formou em sua testa, o que uma jovem teria de tão importante para falar que não poderia se quer esperar o dia amanhecer?

- Irei recebê-la.

Alguns segundos depois Travis voltou acompanhado pela tal mulher, não fazia ideia de quem se tratava. Porém era uma jovem muito bonita, mas seu olhar era duro, como se já tivesse visto muita coisa na vida mesmo pela pouca idade.
Maite não conseguiu evitar fazer a comparação entre os irmãos, enquanto Henry tinha um jeito mais descontraído e brincalhão, William tinha uma postura séria e cara de poucos amigos. Além disso, eram bem diferentes fisicamente também. Henry tinha os olhos tão verdes quanto uma floresta tropical, cabelos negros como a noite, lábios finos, e sempre com um sorriso no rosto mesmo quando uma bomba quase lhe fizera perder uma perna, sua pele era bem clara e tinha um corpo magro. Já o homem em sua frente tinha os olhos em um tom castanho esverdeado, cabelos louro escuro, lábios carnudos e firmes em uma linha reta, além de uma pele mais bronzeada e um corpo bem másculo como se trabalhasse no campo. Ambos eram muito bonitos, porém belezas completamente opostas.

- Posso me retirar, milorde?

- Fique Travis, afinal estamos com uma dama e não queremos que sua honra possa ser atingida ficando a sós comigo.

- Acredito que não seja necessário visto que seu irmão já jogou minha reputação na lama. A história que eu tenho para contar é bem bombástica, vossa graça. Então acredito eu que preferirá que nosso querido Travis fique fora dela para evitar as fofoquinhas pela criadagem.

Lewys ficou estático pela forma que a garota insolente havia falado, e o pobre mordomo ficou tão branco que ambos pensaram que o mesmo desmaiaria a qualquer momento. Ninguém ousava tratar um Duque daquela maneira.

- Saia, Travis.

O homem saiu fazendo uma rápida reverência, e encarando Maite como se ela fosse um alien.

- Sente-se, senhorita...?

- Campbell, Maite Campbell. - Falou se sentando na cadeira frente a mesa dele, de forma ereta e com um semblante tão tranquilo, como se houvesse ensaiado aquele momento umas cem vezes antes de estar ali de fato.

- Me conte qual é o problema então, senhorita Campbell.

- Sou enfermeira e trabalhei na guerra, como deve saber seu irmão foi ferido nela e eu fui a responsável por seus cuidados, e se hoje ele está vivo, sim, foi graças a mim. Acabou que Henry me seduziu e começamos a ter uma relação, eu o amava. - Nesse instante ela suspirou, e ficou claro que na verdade ela queria dizer "o amo", ao invés de narrar no passado como havia feito. - Uma noite antes dele partir de volta para casa ele prometeu que voltaria para me buscar e nos casariamos, e eu... Me entreguei a ele, dei a ele a única maldita coisa que eu tinha em minha vida, minha honra. Mas como ficou bem claro ele nunca retornou, e aquela noite rendeu frutos.

- Está grávida?

- Sim.

- Lamento informá-la, mas meu irmão se casou. Ele se uniu em matrimônio com Lady Kathy Stinsky, filha de um Conde. Assim que ele retornou da guerra nosso pai havia arranjado o casamento entre eles. - Contou sem esboçar qualquer reação, mesmo diante sob a lágrima que escorreu pela face da mulher em sua frente.

Maite sentiu como se alguém tivesse puxado o tapete que estava debaixo de seus pés. Era o fim, estava sozinha e com uma criança no ventre que jamais seria reconhecida. Um ser inocente que também sofreria as consequências daquela noite maldita.

- Meu Deus... - Murmurou destruída.

- Irei buscar Henry para confirmar sua história, se estiver falando a verdade verei o que fazer. Pode esperar aqui em meu escritório, pedirei que lhe tragam chá e biscoitos. Dentro de uns 15 minutos estarei de volta, com sua licença. - Falou e partiu em seguida, sem esperar por uma resposta.

Como ele havia dito em poucos segundos surgiu uma criada com uma bandeja com chá, leite, açúcar e biscoitinhos amanteigado, e sua barriga roncou ao sentir aquele cheiro delicioso.
A mulher saboreou tudo com muito prazer, estava faminta. Desde que subiu na embarcação para chegar até ali havia se alimentado muito mal, principalmente pelas náuseas que o sacolejar do navio já lhe causavam normalmente, grávida então ficou muito pior.
Quando a porta foi aberta novamente parou de mastigar no mesmo instante e se pos de pé.

- Maite! - Disse Henry sorrindo e correndo para abraçá-la, mas a mesma se desvencilhou de seus braços o mais rápido que conseguiu.

- O Deus... Então é verdade que conhece essa jovem?

- Sim, conheço. Me perdoe por não ter voltado para te buscar, meu pai me arranjou um infeliz casamento e não tive o que fazer, se não me casasse ele me deserdava. Eu achei que seria melhor para nós simplesmente nunca mais nos vermos, eu não suportaria ter que encará-la para lhe dar tal notícia

- Eu estou grávida. - Disse ela sem rodeios, e o homem precisou se segurar na cadeira diante tal declaração.

- Cristo...

- Pode ter certeza que se eu tivesse escolha jamais teria vindo até aqui, cuidaria desse bebê sozinha. Porém sabe muito bem que o mundo é cruel com mães solteiras, logo eu seria demitida pelo médico, não conseguiria trabalho em lugar algum e teria que virar uma pedinte ou uma meretriz. Por isso vim lhe procurar, mas foi em vão, está claro que a ruína completa será meu futuro e o dessa criança.

- Me casarei com você.

- O que? - Perguntaram Maite e Henry em uníssono surpresos pelo comentário repentino que saiu dos lábios de William.

- O que ouviram.

- Não pode fazer isso, William. Ela é minha! - Bradou o outro homem furioso.

- A é? E vai fazer o que? Matar Lady Kathy para se casar com essa garota? - Questionou irônico, dando um riso de nervoso.

- Claro que não... Eu... Eu... Vou comprar uma casa para Maite e lhe dar tudo o que precisar, e principalmente o meu amor.

- E deixar que uma criança com o sangue Lewys nas veias seja tratado como um bastardo nojento pela sociedade? Além disso, humilhar sua esposa e manter uma amante? Não tens dignidade?

- Sabe muito bem que não amo Kathy! Casei porque nosso pai me obrigou antes de morrer.

- Obrigou? Eu sou o irmão mais velho, era pra ele ter obrigado a mim, e sabe por que não o fez? Porque sempre bati de frente com ele dizendo que nunca o deixaria controlar minha vida, a ameaça de ser deserdado nunca me assustou, pois sou homem o suficiente! Sabe que casar era a última coisa que eu queria, e estou fazendo isso por culpa sua! Vou assumir essa mulher e esse filho, mas já lhe adianto senhorita Campbell que será somente um casamento de faixada, apenas farei isso para dar a você e a esse bebê a segurança de que precisam. O assunto está encerrado, pedirei agora que lhe arrumem um quarto, deve estar exausta da viagem. - Declarou e saiu em seguida.

- Não pode aceitar isso, Maite. Não suportaria ver você e meu irmão juntos, é demais para mim, eu prefiro a morte. - Suplicou pegando em suas mãos.

- Por essa criança sou capaz de qualquer coisa. Tudo o que tivemos algum dia se encerrou quando subiu no altar com outra, maldita foi a hora que cuidei de você com todas as minhas forças e lhe devolvi a vida. Deveria ter ouvido o médico dizendo que era impossível te salvar e ter te deixado morrer a míngua, sem sangue no corpo. Fique longe de mim, milorde.

A mulher partiu seguindo Travis que a levaria até seu novo quarto, e quando finalmente estava sozinha desabou na cama e chorou. Por que seu coração traira ainda insistia tanto em bater acelerado por alguém que não merecia?

Aos Cuidados de um Duque Onde histórias criam vida. Descubra agora