12 - Ombro amigo

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Último dia em Itália, umas férias que me vão marcar para a vida.

O ambiente tem estado estranho na casa, todos sabem que eu e o Daniel temos um passado, um passado que deixou marcas.

Depois de ajudar a levar os pratos do almoço para a cozinha, toquei ao leve no braço da Lily.

- Podes ir até à praia comigo? – era só ridículo eu continuar a negar. Negar que há uma história entre mim e o australiano, uma história que já me sinto confortável em partilhar.

- Claro que sim, vou só buscar uma toalha e os meus óculos de sol – Lily respondeu-me com o seu habitual sorriso, mas em certa medida, um sorriso não tão brincalhão como costumava ser. Ela percebeu que não era só uma simples ida à praia.

Caminhamos em silêncio até à praia.

O mar estava calmo, tal como esteve todos os dias em que cá estive. O sol brilhava bem no alto no céu e deixava um rasto de calor na minha pele.

A Lily estendeu a toalha na areia, sentou-se e fez-me sinal para eu me sentar ao seu lado.

- Podes demorar o tempo que precisares, quer dizer, convém ser antes de o meu voo ir embora – solto uma gargalhada.

- Não sei por onde começar – faço desenhos com o indicador na areia que estava junto à toalha – há tanta coisa para dizer.

- Começa por aquilo que fizer sentido para ti – tira os óculos da cara – todo este tempo, fiz pressão para me contares o que tinha acontecido contigo e com o Ricciardo. Mas quero pedir-te desculpa, porque nunca tinha percebido o quanto esta situação te estava a magoar.

- Está tudo bem, não tens culpa. Talvez ninguém tenha – observo as pequenas ondas que rebentam junto à areia – eu é que não estava preparada.

- Sim, eu percebi isso, principalmente quando te vi deitada no chão da casa de banho. Custou-me muito ver-te assim, fiquei em pânico, porque não sabia como te ajudar.

- Desculpa-me por isso – digo-lhe, triste por lhe ter despoletado aquelas sensações.

- Não tens de pedir desculpa, porque tal como disseste, não há culpados – ela sorri-me e eu retribuo. Faz sentido aquilo que ela me diz, mas custa-me ser a causadora do mau estar de alguém, independentemente de quem seja.

- Conheci o Daniel em Portimão, na altura da corrida, o ano passado. Não fazia a menor ideia de quem ele era – sorri ao recordar-me da primeira vez que vira o piloto – por motivos que eu desconheço, convidou-me a ir ver a corrida. E por motivos que eu também desconheço, aceitei.

- O Daniel, daquilo que conheço, consegue ser muito persuasivo, principalmente quando gosta daquilo que vê. Tenho a certeza de que ele gostou do que viu, de outra forma não te tinha feito tal convite.

- Sim, ele consegue ser muito persuasivo – baixo o meu olhar para a areia, na tentativa de ganhar coragem para conseguir falar – começamos a namorar algum tempo depois, foi tudo muito discreto. Nunca saiu nenhuma notícia sobre nós. O que foi fantástico, porque eu não queria lidar com isso.

- Irónico, porque agora tens de lidar com isso.

- Sim, mas é diferente. É sempre sobre o meu trabalho e não sobre a minha vida pessoal – nem quero imaginar se tivesse de responder à imprensa sobre a minha vida pessoal, deixa-me desconfortável só de pensar nisso– quando começamos a namorar eu ainda estava na faculdade, só nós víamos quando eu tinha tempo de o acompanhar nas corridas, ou quando ele vinha a Portugal.

- E a distância não era um problema? É que eu falo por mim, nem sempre é fácil.

- Por incrível que pareça, com ele era tão simples. Não posso dizer que era bom ou que era fácil, porque não era. Mas ele tornava as coisas mais simples, mais leves, e foi algo que me fez apaixonar ainda mais por ele. Eu sou completamente o oposto, então ele completava-me, conseguia acalmar o turbilhão de pensamentos negativos que eu tinha.

O meu mundo de Formula 1 - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora